sábado, 16 de março de 2013

População pobre de Livramento poderá ficar sem água

Os moradores dos bairros periféricos de Livramento de Nossa Senhora, que já bebem água contaminada e enfrentam racionamento durante boa parte do ano, poderão ficar sem água definitivamente. A barragem Luiz Vieira, que abastece as cidades de Livramento, Dom Basílio e Rio de Contas, está abaixo do nível crítico, com a possibilidade de secar totalmente em médio prazo, como já aconteceu com a Barragem do Paulo, entre Dom Basílio e Livramento.


A usurpação irracional da água em larga escala ao longo dos anos pela elite agrária, principalmente de Livramento, provocou a morte da Barragem do Paulo e o esvaziamento da barragem Luiz Vieira, deixando-a em situação bastante delicada. Nem mesmo as fortes chuvas que caíram no mês de janeiro foram capazes de provocar uma elevação considerável no nível do reservatório.


Quando o açude Luiz Vieira foi construído, o projeto do DNOCS previa cultivo de apenas 5 mil hectares dentro do perímetro irrigado, mas os grandes produtores de manga e maracujá da região, em busca de lucro fácil a todo custo, expandiram a área plantada, que já chega a mais de 12 mil hectares, para fora do perímetro. Sem se preocupar com a população, a elite agrária, principalmente local, fez uso, durante anos, de quase toda a água do açude Luiz Vieira com a omissão ou complacência do poder público. Chegaram a construir barragens, com a água do povo, dentro de suas próprias propriedades.


Apesar de utilizarem equipamentos públicos, como estradas, sistemas de água, canais de irrigação, explorar o trabalhador, lucrar cerca de R$1 bilhão por ano, além de degradar e poluir o meio ambiente, os grandes proprietários de manga e maracujá de Livramento nada pagam à Prefeitura. Os tais empresários que se dizem ser responsáveis pela geração de emprego e renda de grande parte da população de Livramento são os mesmos que estão provocando, por conta de sua sanha de ganhar lucros exorbitantes à custa da depredação ambiental, o sofrimento dos moradores do município há meses não só pela falta de água como também pelo risco de contaminação.


Não devemos cair no discurso alienante de que o problema do esvaziamento da barragem Luiz Vieira se deu devido à ausência de chuva. Antes de ter sua água usurpada pela elite agrária local, o açude era capaz de abastecer toda a população com tranquilidade nos períodos de grande estiagem. Nossa região, apesar de se situar no semiárido, sempre foi rica de água, livre de contaminação, por sinal. Só depois da depredação ambiental provocada pelos grandes proprietários de terra é que começamos a passar, com frequência, pelo problema de falta de água.

Para evitar o colapso no abastecimento, pelo menos até julho de 2014, o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) reduziu, no final de fevereiro, a vazão da barragem Luiz Vieira de 250 litros para 130 litros por segundo, por determinação da Agência Nacional da Água (ANA), a pedido da Embasa. No entanto, a redução da vazão ecológica, além de concentrar maior contaminação na água, afetando a saúde da população, principalmente dos mais pobres, deve provocar a morte do Rio Brumado e, consequentemente, da Cachoeira de Livramento, conhecida com Véu de Noiva.
Barragem do Rio do Paulo está vazia

Mesmo com a gravidade da situação, as autoridades de todas as esferas se mantêm apáticos e nada fazem para resolver o problema. As medidas paliativas que estão sendo tomadas, como a distribuição de água através de carros-pipa, amenizam muito pouco o sofrimento da população pobre do campo.

Por outro lado, os 15 carros-pipa que transitam o dia todo pelas avenidas de Livramento podem estar levando água contaminada para as comunidades rurais. Os veículos coletam o líquido em canais naturais, como uma bica na estrada que liga Livramento a Rio de Contas, vinda de canais a céu aberto. De acordo com o site O Mandacaru, “exames feitos pela Embasa, a pedido da Prefeitura, em dezembro de 2012, mostram que a água da citada bica contémmanganês, alumínio e ferro total acima do tolerado, estando ‘fora dos padrões para consumo humano’. Sem falar na possibilidade de contaminação bacteriana por coliformes fecais”.



Nesse sentido, devemos, antes de mais nada, sair da inércia e reunir os mais afetados pela seca e pelo risco de contaminação, como os pequenos agricultores, camponeses, movimentos sem-terra e a população das comunidades e bairros pobres, que sofrem com racionamento, praticamente, o ano todo, para cobrarem da prefeitura, dos vereadores, dos deputados, que supostamente nos representam, e dos órgãos competentes, a exemplo da Embasa e DNOCS, ações como obras a curto prazo que solucionem, e não só amenizem os problemas, distribuição igualitária da água, contenção do desmatamento e da contaminação da água, cobrança de impostos e limite de terra aos empresários agrários e o combate à privatização da água, que é cada vez mais recorrente no município pela suburguesia local.

Devemos, ainda, cobrar que todas as ações da prefeitura se voltem, nesse momento, para resolver esse grave problema por que passa a cidade de Livramento. Não podemos ser pacientes, como querem os políticos do município, quando sabemos que milhares de pessoas já estão sofrendo com a ausência de abastecimento, com possibilidade de vidas humanas serem sacrificadas por falta de água e contaminação.

Com informações do Livramento Diário


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