terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Nossa água usurpada pela elite agrária

A barragem Luiz Vieira, responsável por abastecer principalmente a cidade de Livramento de Nossa Senhora, está abaixo dos níveis de segurança, restando menos de 20 milhões de metros cúbicos de água, dos 105 milhões da capacidade. Mas mesmo assim há relatos de que as comportas estão sendo abertas para os grandes proprietários de terra, podendo a qualquer momento ocorrer racionamento de água em toda a cidade para o consumo humano.

Quando a barragem foi construída, o projeto do DNOCS previa cultivo de apenas 5 mil hectares dentro do perímetro irrigado, mas os grandes produtores de manga e maracujá da região, gananciosos e irresponsáveis, em busca de lucro fácil a todo custo, expandiram a área plantada, que já chega a mais de 12 mil hectares, para fora do perímetro. Sem se preocupar com a população, a elite agrária, principalmente local, usurpou, durante anos, quase toda a água do açude Luiz Vieira com a omissão ou complacência do poder público. Chegaram a construir barragens, com a água do povo, dentro de suas próprias propriedades.

Apesar de utilizarem equipamentos públicos, como estradas, sistemas de água, canais de irrigação, explorar o trabalhador, lucrar cerca de R$1 bilhão por ano, além de degradar e poluir o meio ambiente, os grandes proprietários de manga e maracujá de Livramento nada pagam à Prefeitura. Os tais empresários que se dizem ser responsáveis pela geração de emprego e renda de grande parte da população de Livramento são os mesmos que estão provocando, por conta de sua sanha de ganhar lucros exorbitantes à custa da depredação ambiental, o sofrimento dos moradores do município há meses.

O problema se agravou a tal ponto que nem mesmo os mais de 15 carros-pipa que transitam o dia todo pelas avenidas de Livramento conseguem suprir a demanda das comunidades rurais. O resultado são os conflitos entre os próprios moradores que já começam a surgir. Mas até agora nenhuma medida radical foi tomada pelos mais atingidos pela seca, como a ocupação das grandes propriedades de terra, onde há água em abundância. Talvez, não tenham nem mesmo forças para tal envergadura.

De modo que a zona rural que já vive na pobreza devido ao descaso e abandono dos sucessivos prefeitos agora tem de conviver com um longo período de falta de água. Não só a zona rural, contudo, tem sofrido com a ausência de abastecimento. Os bairros mais pobres da zona urbana que sofrem com o racionamento praticamente o ano todo, como o Benito Gama, já estão sem água há 6 dias. Mesmo com a gravidade da situação, nenhum político, nenhum carro-pipa foi até o local para tentar amenizar o sofrimento dos moradores.

Como acontece em todo o Brasil, a população pobre é quem paga a conta pela ganância e irresponsabilidade da elite agrária usurpadora do nosso bem precioso, a água, como também é a população pobre quem paga pela omissão e descaso dos prefeitos, vereadores, empresas estatais e o poder público, de um modo em geral.

Não devemos cair no discurso alienante de que o problema do esvaziamento da barragem Luiz Vieira se deu devido à ausência de chuva. Sabemos que antes de ter sua água usurpada pela elite agrária local, o açude era capaz de abastecer toda a população com tranquilidade nos períodos de grande estiagem. Nossa região, apesar de se situar no semiárido, sempre foi rica de água, livre de contaminação por sinal. Só depois da depredação ambiental provocada pelos grandes proprietários de terra é que começamos a passar, com frequência, pelo problema de falta de água.

Nesse sentido, devemos, sim, clamar por chuvas, como vejo as pessoas dizerem, mas isso é o mínimo que podemos fazer. Apenas orar por um milagre divino enquanto uma minoria de ricos usurpa e se “diverte” com nossa água é girar em falso. Devemos, antes de mais nada, reunir os mais afetados pela seca, como os pequenos agricultores, camponeses, movimentos sem-terra e a população dos bairros pobres, para cobrarem da prefeitura e dos órgãos competentes, a exemplo da Embasa, ações como a distribuição igualitária da água, obras que solucionem, e não só amenizem os problemas, contenção do desmatamento e da contaminação da água, cobrança de impostos aos empresários agrários e o combate à privatização da água, que é cada vez mais recorrente no município pela suburguesia local. Caso contrário, o sofrimento do povo que se prolonga há décadas no município tenderá a continuar.

Com informações do Livramento Diário

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