segunda-feira, 11 de abril de 2011

Aonde foi parar o Carnaval cultural?


Meu nome é Valdenberg Trindade (ou simplesmente, Berg) e, apesar de não ter nascido em Rio de Contas, acompanho desde a infância os Carnavais da boa terra.


Conheci os antigos bailes da Associação e do Club Riocontense; os grupos de caretas papietadas ou de fronhas (os chorrós, se não me engana a grafia), que percorriam a ruas da cidade, acompanhados pela molecada; as guerras de talco e farinha de trigo; os carros exóticos do genial Zofir Brasil; o Pequi Elétrico. Este veículo, que existiu por quatro carnavais, “arrastava a massa”, desde o DNOCS, até a Igreja de Santana e era sempre um velho caminhão, com alto-falantes e um barulhento gerador elétrico. O Pequi Elétrico era animado por um estridente cavaquinho e dúzias de caixas de guerra.


Até então, era um Carnaval tradicional e criativo, tendo como essência as bandas de marchinhas e frevos, formadas por talentosos músicos locais.


Isto até o início da década de 1980, quando os sucessivos prefeitos começaram a dar contornos eleitorais à festa, levando-a para palcos cada vez maiores, priorizando bandas de qualidade duvidosa (cópias grosseiras do Carnaval de Salvador). A transformação, aproveitada de forma predatória por comerciantes e lobistas inescrupulosos, coincidiu com o crescimento do turismo em Rio de Contas. O resultado foi um aumento quantitativo nas estatísticas do Carnaval riocontense e a oferta de atrações de péssima qualidade e sem relação com a cultura da cidade. Hoje, o maior espaço para a tradição se resume a um palco “alternativo”, quando este deveria se o palco principal.


Esclareço que não sou um saudositas melancólico e que não sou contra a evolução das festas populares. Na verdade acredito que existe espaço para todos os gêneros musicais e mesmo para as jogadas de marketing dos mandatários. Contudo, seria muito inteligente e bem mais lucrativa a criação de um grande espaço para o axé/pagode em área fora da cidade (com toda infra-estrutura necessária), reservando o centro histórico para o Carnaval tradicional (este sim, gerador de renda e conectado com a preservação cultural de Rio de Contas).


Claro que tudo isso norteado por uma política séria e honesta de ação cultural!


Fica aí a crítica, mas fica também a sugestão!


Valdenberg - Designer, cartunista, artista plástico e pesquisador cultural.


2 comentários:

Anônimo disse...

FANTÁSTICO!!!
Os chorrós, os fantasiados, os músicos locais, todos correndo do ROLO COMPRESSOR munido com poderosas caixas de som, pilotado por um endinheirado dirigente vestido de vermelho e preto.
Quem será?

Anônimo disse...

O colega tem toda razão, mais falta coragem dos administradores e principalmente consciência do povo. Foram realizadas audiências públicas, e quem compareceu, preferiu este carnaval que acontece agora. A pobreza é um ploblema. Como a cidade só depende de repasses de prefeitura as pessoas tem de aguentar essa barulhada e falta de respeito para receber uma graninha. É como se fosse uma prostituiçaõ barata.