Foi preso nesta segunda-feira (16) na Inglaterra o frei franciscano alemão Alexander Nicolaus Weber, foragido da Justiça brasileira desde 2002. Ele havia sido condenado na Bahia por atentado violento ao pudor contra um menino que, à época do crime tinha seis anos.
Weber foi preso hoje em um hotel em Londres, e foi localizado pela Interpol (polícia internacional). Ele deverá ser extraditado para o Brasil, onde cumprirá sua pena pelo crime.
Em 2002, o alemão foi preso em flagrante pela Polícia Civil da Bahia, mas conseguiu um habeas corpus e fugiu. Na ocasião, ele cumpria prisão domiciliar na Casa de Repouso dos Frades Franciscanos, em Salvador (BA).
Na época em que recebeu autorização para sair da prisão o frei Alexander, frade da Ordem Franciscana Santo Antônio do Brasil, mantinha residência fixa em João Pessoa, onde trabalhava em uma creche que abrigava 45 crianças. O frei só parou de trabalhar na Paraíba porque a creche foi fechada por falta de verbas.
O caso
Na manhã da sexta-feira, 11 de janeiro de 2002, o frei franciscano Alexander Nicolaus Weber, de 34 anos, acordou cedo para tomar café da manhã na Pousada Raposo Chalé, em Rio de Contas, município perto da Chapada Diamantina. Quando começava a se servir, foi interrompido por uma professora hospedada em um chalé a 15 metros do seu. A mulher o acusava de ter tirado fotografias pornográficas de seu filho de 6 anos. Perplexo, frei Weber afirmou que havia algum engano. Ainda assim, concordou em levar sua câmera fotográfica para a delegacia mais próxima. Durante o interrogatório, ele se disse surpreso com aquilo tudo – e chorou. Revelado às pressas, o filme de sua máquina mostrou apenas flagrantes de paisagens. Frei Weber estava prestes a ser liberado por falta de provas quando a mãe do menino resolveu continuar a investigação por conta própria. Voltou para a pousada e invadiu o quarto do padre. Encontrou uma máquina fotográfica digital em cima da cama e a levou para o distrito. Quando as novas fotos foram exibidas, restou ao frei pedir desculpas. “Perdi o controle”, confessou ele, conforme consta do boletim de ocorrência. A reportagem de ÉPOCA conversou com cinco pessoas que viram as fotos, em momentos diferentes. Todas descrevem uma seqüência de 19 poses, em que o garoto aparece deitado em uma cama, tirando as roupas e sendo tocado pelo padre. Na última da série, é o próprio frei quem aparece, em foto tirada pelo menino.
Frei Weber foi preso em Brumado, a 70 quilômetros de Rio de Contas, sob acusação de atentado violento ao pudor, crime que ainda pode lhe render de seis a dez anos e cadeia. Na época seus advogados tentavam enquadrá-lo no artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que pune quem fotografa menores em situações pornográficas. Nesse caso, poderia ser submetido a uma pena que iria de um a quatro anos de reclusão. “As fotos são chocantes, pornográficas. Mas foi um caso isolado. O frei não demonstra nenhuma tara”, disse José Gomes, na época, advogado do padre.
Ameaçado pelos outros 55 presos do distrito, frei Weber precisou ser transferido para uma cela adaptada, de 3 metros quadrados. Em entrevista a ÉPOCA, falou de sua trajetória no Brasil, mas se recusou a comentar o episódio. “Não vou dizer se foi a primeira vez porque isso vai ser definido pelas investigações. Mas sei que vou ser expulso da Congregação”, disse. O padre nasceu em Rheda-Wiedenbrück, uma vila rural no oeste da Alemanha. Foi alfabetizado por padres e passou a adolescência no seminário. Em 1989, entrou para a Ordem dos Frades Menores, que costuma enviar missionários e recursos para obras sociais no Brasil. Quatro anos depois, foi cuidar de crianças desnutridas em hospitais de Pernambuco. ”Descobri minha vocação para ser enfermeiro. Achei a coisa mais importante do mundo lidar com crianças tristes e ver o olhar ganhar vida de novo, a pele voltar a ter cor”, conta. Até um mês atrás, ele trabalhava em uma creche em João Pessoa que abrigava 45 crianças – fechada por falta de verbas.
Na noite da quinta-feira 10, um dia antes do padre cometer o crime de atentado violento ao pudor contra o garoto, a professora precisou deixar a pousada para participar de um curso e não teve medo de deixar o filho por ali, perto de pessoas respeitáveis. Quando voltou, encontrou o garoto dormindo. Mas, na manhã seguinte, o menino disse: “O tio tirou fotos minhas no chalé dele”. Em seguida, contou que foi chamado pelo frei para brincar de artista de televisão. Aos poucos, foi dando mais detalhes. Quando soube da denúncia, um casal de amigos alemães que viajava com o padre, Iris Zenker, de 44 anos, e Dirk Ruhling, de 43, duvidou que ele pudesse ter cometido o crime. Depois de ver as fotos na delegacia, no entanto, Iris gritou: “Você é um monstro e merece passar o resto da vida na cadeia!”. Liberados, os turistas voltaram para a Alemanha. Desde que viu as fotografias, a professora mergulhou na apatia. O menino ainda não entendeu o que aconteceu. Diz que ficou amigo do frei – pediu para brincar com ele outra vez.
Adriana Costa com informações da Folha Online e da Revista Época
Fonte: Portal Correio