terça-feira, 6 de outubro de 2009

Manejo sem fogo garante riqueza do solo na Chapada Diamantina

Esta época do ano é o período em que, tradicionalmente, muitos produtores rurais costumam fazer uso do fogo para manejo do solo, pela facilidade em que se dá essa prática e, muitas vezes, impulsionados pela crença de estarem preparando adequadamente a terra para o plantio.

Na Chapada Diamantina, uma das regiões mais afetadas por incêndios florestais, no ano passado, a prática de queimadas ainda perdura, pondo em risco as diversas reservas florestais localizadas nas áreas de proteção ambiental da região.

Atualmente, essa prática é condenada por especialistas como o técnico agrícola Júlio Castro, da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA). “É um mito achar que a queimada é a melhor solução, porque, quando o mato morre, acaba-se também com os nutrientes do solo”.

Júlio que faz um trabalho de conscientização e educação agrícola, no município de Palmeiras, na Chapada Diamantina, diz que a proposta é ensinar aos agricultores a preparar a terra sem o uso do fogo. “Para isso, existem muitas técnicas que melhoram a estrutura do solo, deixando-o mais produtivo como a adubação verde, a cobertura morta, a compostagem e a adubação orgânica”.

Um exemplo de boas práticas, realizadas pela unidade da EBDA de Palmeiras, é o trabalho que vem sendo desenvolvido no distrito de Matão. A iniciativa vai beneficiar, inicialmente, 16 famílias que adotaram as novas técnicas agrícolas, fornecendo suporte técnico e sementes para o plantio. “Essa é uma característica dessa gestão, também voltada para a agricultura familiar”, explica o técnico, orientando o agricultor interessado a procurar a unidade regional da EBDA, em seu município, para requisitar assistência.

Escola Família Agrícola

Do outro lado da Chapada Diamantina, no município de Andaraí, crianças em idade escolar aprendem, na prática, qual das técnicas é mais produtiva, na Escola Família Agrícola, informa o diretor da unidade, Gilênio Rodrigues. “Fizemos duas técnicas de manejo, queimando e sem queimar o mato, para comparar os resultados. Constatamos que a área queimada leva o dobro do tempo para se recuperar, enquanto que a área preparada organicamente, além da recuperação rápida, aumenta a produtividade em 100%”, relata Gilênio, que é responsável pela educação agrícola de 55 alunos do 1° grau.

Segundo ele, “é difícil convencer ao agricultor a abandonar essa prática antiga, do uso do fogo, mas os próprios alunos já estão convencendo suas famílias de que não façam queimadas, mostrando os resultados. São visíveis os resultados de dois anos de trabalho, na Escola Família Agrícola de Andaraí, nas plantações exuberantes que são desenvolvidas pelos alunos e professores, nas dependências da escola”.

A EFA funciona em regime de alternância - uma turma passa 15 dias na colônia, enquanto que a outra fica em casa, aplicando o que aprendeu nas roças das famílias. Ao final desses quinze dias, as turmas se revezam, dando continuidade ao trabalho, que vai da teoria até a colheita da produção. “A produção serve para alimentação dos alunos, que a consomem aqui mesmo, na escola, e ainda levam para casa”, explica o professor Antônio Carlos de Oliveira, mostrando os legumes e verduras, cultivados na EFA.

Ele diz que é feito o preparo do solo com compostos orgânicos como esterco de curral curtido e restos de culturas. “Depois do plantio, a gente faz uma adubação com o próprio mato que foi roçado e depositado ao lado, por um tempo, transformando-se numa matéria orgânica que acelera o ciclo vegetativo das plantas”.

Para não dar praga, são utilizados defensivos naturais, a exemplo de mel de fumo, urina da vaca e infusão de uma planta chamada “ninho”. Denúncias e mais informações pelo Disque Meio Ambiente - 08000 71 1400- e 11° Grupamento de Bombeiros Militares (193)

Pescadores de Andaraí recebem Fiscalização Participativa

Uma colônia de pescadores, localizada no município de Andaraí, recebeu uma equipe da Fiscalização Participativa da operação Chapada Sem Fogo, para discutir a incidência de fogo nas margens dos rios da colônia e outras questões ligadas à economia e preservação ambiental da região.

Mais de 200 famílias foram representadas por lideranças dos pescadores, num encontro importante para a operação e manutenção da colônia. “Quando parou o garimpo, a maioria dos garimpeiros daqui virou pescador”, afirmou o presidente da Associação de Pescadores, Elias Souza. “De todos os anos, o que teve mais fogo foi o ano passado. Acabou boa parte da capoeira que ficava na beira do rio, onde os peixes entravam para desovar”, explicou Elias, demonstrando grande preocupação com a diminuição dos peixes na região, principalmente da espécie nativa mais popular, o tucunaré, que garante o sustento de muitas famílias.

Os técnicos da operação orientaram sobre a importância de preservar a mata ciliar para a manutenção da vida nos rios, mais especificamente sobre a vegetação que encobre o Pantanal Marimbus, um lugar rico em diversidade biológica.

Os pescadores responderam positivamente às orientações, comprometendo-se em proteger a fonte maior de seu sustento, que é o rio, e de tornarem-se guardiões, agindo no combate ao fogo e denunciando os infratores.

“A maioria dos pescadores daqui é defensor do rio”, afirmou o presidente da Colônia dos Pescadores, Dal. “Se equipar e treinar o pescador, ele chega ao local do fogo mais rápido do que qualquer pessoa”, acrescentou, prontificando-se em formar uma frente de brigadistas voluntários, composta de jovens pescadores, para proteger os rios da região.

Em resposta a esse pedido, o Coronel Miguel Filho, do 11° Grupamento de Bombeiros de Lençóis, afirmou que “todas as idéias voltadas para a proteção do meio ambiente são válidas e o Grupamento de Bombeiros vai abraçar essa iniciativa, fornecendo todo o apoio necessário para o treinamento dos pescadores, como já treinamos outras brigadas da Chapada Diamantina”.

O coronel ainda fez um apelo. “A área em que atuamos é muito grande para o nosso efetivo, abrangendo a Chapada Diamantina e todo o oeste da Bahia. Quanto mais parceiros nós tivermos, na prevenção e combate aos incêndios, menos o meio ambiente será afetado”.

Encontros com comunidades fortalecem ações da Chapada Sem Fogo

Já entrando na sua quarta fase, a Operação Chapada Sem Fogo está conquistando vitórias importantes na conscientização ambiental das comunidades, que se reúnem diariamente com as equipes da Fiscalização Participativa.

As reuniões são agendadas com lideranças, ONG’s, instituições, associações e cooperativas, nos municípios e distritos da Chapada Diamantina, com o objetivo de informar, ao maior número de pessoas, sobre a importância da preservação do meio ambiente.

As equipes da operação fornecem, entre outras orientações, noções sobre reserva legal, mata ciliar, licenciamento, aplicação da legislação ambiental nas atividades de produção de carvão, comercialização de animais silvestres e desmatamento ilegal, destacando os perigos do uso do fogo nas atividades agrícolas ou em qualquer outra atividade, neste período de seca. “Estamos realizando encontros por toda a Chapada Diamantina e somos sempre muito bem recebidos, até mesmo aplaudidos pelas orientações que damos”, relata Fabíola Cotrim, técnica do Instituto do Meio Ambiente (IMA), que lidera as equipes itinerantes de Fiscalização Participativa.

Ela conta ainda que “muitas vezes, a própria população chega a uma solução concreta e real, sobre as questões ambientais, e nos tornamos mediadores das lideranças presentes nos encontros como foi o caso da reunião com assentados de Bonito, em que os próprios representantes do assentamento de Morrinho decidiram quebrar os fornos utilizados na produção de carvão, em suas propriedades”.

Desde que se iniciou a operação, em agosto deste ano, já foram realizadas mais de 200 reuniões, nos distritos e municípios distribuídos por toda a Chapada Diamantina e localidades próximas. Cada encontro é preparado cuidadosamente, de acordo com a necessidade de cada comunidade, sempre objetivando sustentabilidade ambiental e o equilíbrio das ações provenientes de atividades econômicas, com a preservação dos biomas que determinam as características da fauna e da flora de cada local.

“Estamos aperfeiçoando a Fiscalização Participativa, compartilhando boas práticas e treinando novos técnicos, da capital e das unidades regionais, para integrarem a operação”, afirma a diretora de fiscalização do IMA, Carla Fabíola. “A Chapada Sem Fogo é uma operação que está chegando ao conhecimento de toda a região e o marco inicial de um trabalho constante, que será desenvolvido durante todo o ano e aplicado em todo o estado da Bahia. Continuaremos mantendo o diálogo com as comunidades, levando informações da legislação ambiental e exercendo a fiscalização com transparência e bom senso, integrando, cada vez mais, outras secretarias do governo, para dar continuidade a esse trabalho conjunto”, enfatiza Fabíola.

Fonte: Governo da Bahia


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