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Jornalista Raimundo Marinho
Cada vez mais os atos dos políticos ladrões e incompetentes me convencem de que a miséria humana se espelha mais nos jalecos e casacos do que nos trapos e farrapos. Nunca antes nesta República a promiscuidade entre o público e o privado, sob a direção daqueles cidadãos, foi tão acintosa. Até ligações familiares, âmbito privado mais genuíno, passaram a balizar decisões que deveriam ter por parâmetro o interesse público. Vide a lama que escorre, atualmente, das cavernas secretas do Congresso Nacional.
Mas aqui, no tupiniquim, não tem sido diferente, haja vista o absurdo interesse paroquial na insistência em justificar, por exemplo, o ato insano de contaminar e ameaçar de extinção a bela Cachoeira de Livramento de Nossa Senhora, prestes a servir de depositário dos dejetos sanitários da vizinha cidade de Rio de Contas, sob o patrocínio da empresa estatal de água e saneamento. Nenhum “pinicão” do Estado da Bahia, sob a responsabilidade da Embasa, deu certo. Basta visitar o de Livramento e o de Vitória da Conquista, para fazer a constatação.
E o que está sendo implantado em Rio de Contas é exatamente um moderno “pinicão”, obra em flagrante contramão dos movimentos mundiais e ações em defesa do meio-ambiente e proteção da saúde humana, com programas de descontaminação de rios, como é o caso do Rio Joanes, que abastece parte da capital baiana. Indignados com essa falta de pudor administrativo e descaso para com o interesse público, ecos de reprovação surgem entre a população de Livramento, principalmente os jovens.
É muito justo, pois serão eles e seus filhos que mais sofrerão as conseqüências no futuro. Os meios de luta, lamentavelmente, são insipientes, notadamente quando se tem do lado contrário a mais alta autoridade do município e seus áulicos. Não demora e eles cumprem os mandatos temporários e sairão da administração, se mudarão da cidade, mas já terão puxado a descarga sobre o futuro do nosso meio ambiente e sobre a cabeça da população.
Por isso, toda mobilização é pouca, para barrar tal desatino ou, quando nada, deixar claro que promessas vãs de que vai haver monitoramento e esclarecimentos engabelatórios não conseguem esconder o óbvio: falta competência dos governantes para encontrar outra opção de lançamento dos dejetos, quanto mais para garantir o que anunciam e prometem. Antes disso, registre-se, mais uma vez, que a pergunta crucial, com relação ao assunto, ainda não foi respondida: se os esgotos serão tratados e não farão mal algum, porque o despejo foi desviado da cachoeira do Fraga, em Rio de Contas?
Na última semana, o estudante Flamarion Barbosa postou um vídeo no site You Tube (clique em http://www.youtube.com/watch?v=tZbBHSt59HE), sob o título “Salve nosso Véu de Noiva”, que realizou com um grupo de jovens, indignados com a decisão da Embasa de canalizar os esgotos para o Rio Brumado, perto do ponto onde começa a Cachoeira de Livramento (“Véu de Noiva”). É também de jovens a grande maioria das mensagens que recebemos manifestando a mesma indignação.
A tentativa dos interesseiros em desqualificar as denúncias veiculadas através da mídia, com ênfase no trabalho deste jornalista, tem produzido efeito contrário, pelo quanto escandalosa e absurda é a decisão da Embasa. Integrantes do governo municipal, por razões que não confessam, embora minoria, tem encampado, vergonhosamente, a posição oficial, sabidamente de interesse restrito e totalmente deslocada no tempo e contrária à preservação ambiental preconizada na Constituição Federal.
Mas, sabemos, também, que servidores conscientes estão desconfortáveis dentro do governo, por ser contra a idéia do chefe, mas sem poder externar isso publicamente. Nesse sentido, é de se louvar a posição firme, política e ecologicamente correta, não sabemos se ainda mantida, mas já tornada pública, do presidente do Legislativo Municipal, Ilídio de Castro, da bancada governista: “Mesmo que a água venha a ser tratada, nós, vereadores, nos posicionamos contra, porque não temos a certeza de que isso ocorra 100%”. (Jornal A Tarde, 28.06.2009, página A 13)
Nessa mesma edição de A Tarde, foi atribuída ao prefeito Carlos Batista, que é médico, a seguinte afirmação: “A diretoria da Embasa me informou que o projeto é muito avançado e vai fazer com que a água que chega à cachoeira tenha um número bem inferior de coliformes, diferente do que estão apregoando na cidade” e que “A própria queda d’água já elimina uma porção de micro-organismos que não podem viver em contato com o oxigênio”. Que absurdo, usar a cachoeira para tratar dejetos de esgoto!
Ou seja, confirmou o risco para a cachoeira, sem se quer admitir a alternativa de se lançar os dejetos em terra, livrando o rio da contaminação. O medo da população justificou-se mais ainda na imprecisão dos termos usados pelo médico/prefeito: “...número bem inferior de coliformes...”, sem dizer quantos, e “... elimina uma porção de micro-organismos...”, tudo sem definição.
Para uma parte dos moradores da cidade, de fato, o risco de contaminação bacteriana é menor, não pelo que disse o prefeito, mas porque, após a cachoeira, a água é submetida a uma grande quantidade de cloro (outro risco para a saúde), na estação de tratamento. Mas e as comunidades - um total de 48 núcleos - que consomem a água bruta? Além disso, o rio morrerá antes da água ser tratada.
“Esse cidadão” sugere a leitura da fábula: “Quando os burros montam nos cavalos”, ou algo perecido, de autor desconhecido.
Fonte: Mandacaru da Serra
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