PRODUTORES DE CACHAÇA DA BAHIA MONTAM ESTRATÉGIAS DE VENDA
Por Jeremias Macário
Durante a Feira Coopmac-Sebrae que se realiza até o próximo domingo (dia 22) dentro da Exposição Agropecuária, Industrial e Comercial de Vitória da Conquista, a Expoconquista 2009, os produtores de cachaça de qualidade de várias marcas da Bahia se reuniram para montar suas estratégias de vendas nos mercados interno e externo e vencer a concorrência dos produtos clandestinos.
Na Expoconquista 2009 promovida pela Cooperativa Mista Agropecuária Conquistanse –Coopmac, os fabricantes de cachaça estão realizando nos estandes do “Espaço Sebrae” demonstrações de degustação e apresentação de seus produtos aos distribuidores e comerciantes da região. A Feira Coopmac-Sebrae funciona com 142 estandes de diversificados produtos e foi aberta no último sábado, devendo receber um público de 200 mil pessoas até domingo.
Primeira marca registrada
Há quatro anos no mercado, a cachaça “Engenho Bahia”, no município de Ibirataia (Extremo Sul), foi a primeira a receber a marca do Inmetro (no Brasil só existem 28 com essa marca) e apenas os estados do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo e Bahia têm essa certificação.
Josafar Rebouças, do Departamento Comercial de Vendas da empresa disse que a cachaça é envelhecida durante dois anos em barris de Jequitibá, Umburana, Bálsamo e Putumuju. Para ter o certificado é exigido vários requisitos, inclusive cuidados com o meio ambiente como não queimar lenha. A fiscalização das instalações e equipamentos é bastante rigorosa.
A “Engenho Bahia”, que participa pela terceira vez da Expoconquista, produz uma média mensal de 200 caixas (12 unidades cada caixa), e o mercado dela se concentra basicamente em Salvador, Porto Seguro, Ilhéus e Itabuna, sem contar São Paulo, Londrina, Recife e Minas Gerais, mas já enviou amostras para a Espanha, visando atingir o exterior.
Tanto Josafar como o produtor Nelson Luz, de Abaira, afirmam que, apesar das dificuldades e dos altos e baixos, a cachaça tem crescido nos mercados interno e externo, bem como melhorado sua participação em feiras e eventos como na Feira Coopmac-Sebrae, em Conquista.
Além da questão da tributação, Nelson se queixa da burocratização para a Cooperativa de Abaira conseguir o selo, “mesmo com o cumprimento de todas as normas trabalhistas e da legislação para se manter um produto de qualidade”. Em convênio com o Sebrae e outros órgãos governamentais, a Cooperativa está tentando obter a indicação geográfica no mundo para a Cachaça de Abaira.
De acordo com Nelson Luz, a região de Abaira produz hoje cerca de 150 mil litros por ano de cachaça engarrafada que é vendida pela Cooperativa a R$10,00 por unidade. A entidade, além da aguardente, vai produzir a partir de setembro o açúcar mascavo, o cristal e outros derivados. Através da EBDA, a Cooperativa conseguiu R$1 milhão para ser investido em equipamentos de novas agroindústrias.
Na região, que conta com o plantio de quatro mil hectares de cana, com produtividade média de 58 toneladas por hectare, o Sebrae é um dos parceiros fortes no incremento do produto através da metodologia da Gestão Estratégia Orientada para Resultados (GEOR). O trabalho tem sido feito em conjunto com a Secretaria de Agricultura, Banco do Brasil, do Nordeste, sindicatos e prefeituras.
Em Rio de Contas funcionam dois alambiques a Tombad’ Ouro e Serra das Almas. Só a Tombad’Ouro produz 10 mil litros por ano que são destinados ao mercado interno. Mas, o produtor da unidade, Luis Carlos Farias garante que o sonho é conquistar o mercado externo. Lamenta que a cachaça industrial ainda receba mais subsídios do governo que a artesanal.
Outras marcas que estão lutando pelo mercado são a Matinha (Piripá) e a Taquaril (Licínio de Almeida) da Coodecana (Cooperativa de Produtores de Derivados de Cana do Vale do Rio Gavião). Segundo o presidente da entidade, Jurandir Costa Viana, as duas fábricas produzem por ano cerca de 180 mil litros. “Nosso produto está entrando agora no mercado formal”, mas a Coodecana já existe há quatro anos e conta com 157 associados que têm mais de 300 hectares plantados de cana. As maiores dificuldades apontadas por Jurandir estão nas áreas da assistência técnica e do crédito, “mas estamos buscando parcerias para contornar os problemas”.
O distribuidor de cachaça para Feira de Santana e Salvador, Jairo Cerqueira confirma que a rejeição ao produto de qualidade ainda é grande devido a concorrência desleal das aguardentes clandestinas no mercado. Na sua avaliação, o Sudeste e o Nordeste (Recife) são os maiores consumidores do produto baiano.
Como parceira, o Sebrae trabalha ainda com as marcas Poço da Pedra (Caculé), Rio do Engenho (Ilhéus), Morro de São Paulo (Jaguaripe), Cachaça Portal da Chapada (Livramento de Nossa Senhora), Ribeirão (Mutuípe e Amargosa) e a Cabeceira do Rio (Utinga e Morro do Chapéu).
BARREIRA DE MERCADO
A cachaça baiana de qualidade vem enfrentando há anos uma luta difícil para conquistar e se firmar no mercado, apesar do Estado ser o segundo maior produtor do Brasil logo depois de Minas Gerais. Os maiores obstáculos, mesmo com todas as estratégias mercadológicas montadas pelos produtores e parceiros envolvidos com a fabricação da aguardente, têm sido a alta tributação do IPI e a pesada concorrência da indústria de outros destilados, como vinhos, uísques e fermentados, como da própria Cachaça Industrial ou de Coluna que paga menos impostos e apresenta preços mais baixos de seus produtos.
Para vencer essas barreiras apontadas pelo coordenador de Projetos da Cachaça do Sebrae/Bahia, Paulo Mesquita, produtores, distribuidores e comerciantes se reuniram no último dia 16 no Encontro de Negócios –Promoção da Cachaça e Derivados, na Feira Coopmac-Sebrae que se realiza até o próximo domingo (dia 22) dentro da Exposição Agropecuária, Industrial e Comercial de Vitória da Conquista, a Expoconquista 2009. As marcas de qualidade estão sendo expostas num espaço da Feira reservado pelo Sebrae.
A saída recomendada por Mesquita para esses entraves é a participação cada vez mais intensa em feiras e eventos, bem como ações promocionais de campanhas e divulgação na área de marketing que gerem novos negócios. Para Conquista, por exemplo, além da Exponconquista, os produtores pretendem participar do Festival de Inverno em agosto e realizar eventos de gastronomia entre bares e restaurantes, com a degustação da cachaça de qualidade.
Reduzir imposto e desburocratizar
Contra a alta tributação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) que chega a mais de 80% do valor da cachaça, como desabafou Nelson Luz Pereira, produtor e membro da Coopama – Cooperativa dos Produtores Associados de Cana e seus Derivados da Microrregião de Abaira, a luta, em conjunto com os órgãos parceiros do segmento, é convencer o governo federal a reduzir o imposto e desburocratizar os processos de certificação do produto.
O palestrante Paulo Mesquita reconhece que a taxa do IPI é elevada e disse que o Sebrae, ao lado da Secretaria da Agricultura do Estado, do Ministério da Agricultura, universidades e outros órgãos, vem realizando atividades em nível de gestão empresarial, de aperfeiçoamento tecnológico e de acesso ao mercado no sentido de apoiar o pequeno negócio da cachaça. O foco, segundo ele, é buscar tratamento diferenciado para os pequenos produtores de derivados da cana que não contam com determinadas vantagens auferidas por outros negócios.
Explicou que a gestão administrativa e financeira é trabalhada pelo Sebrae através das organizações (cooperativas e associações) desses negócios ou com consultoria individual, sempre procurando preservar a segurança alimentar do produto, citando como exemplo a cachaça “Engenho Bahia” (Ibirataia) que conseguiu no Estado o primeiro certificado de conformidade do Inmetro.
Na Bahia o órgão presta assistência a nove rótulos nos pólos de Abaira (Jussiape, Mucugê e Piatã), Extremo Sul (Ibirataia), Paulo Afonso, Vale do Rio Gavião (Piripá e Licínio de Almeida) e nos municípios de Itarantim, Caetité, Rio de Contas e Livramento de Nossa Senhora. Está ainda em formação o pólo da Região Litorânea, de Jaguaripe a Ilhéus.
Com sua ação de apoio na área da cachaça, o Sebrae beneficia indiretamente cerca de três mil pessoas e 800 a mil diretamente, de acordo com cálculos de Paulo Mesquita. Existem na Bahia sete mil produtores, só que menos de 1% desse total é a parte saudável, ou seja, unidades formais.
Preconceito e mercado exterior
Segundo dados do coordenador do órgão, o volume de produção na Bahia é superior a cinco milhões de litros por ano (no Brasil cerca de 1,3 bilhão de litros), mas somente 350 a 500 mil litros no Estado são de alambiques legalizados. Confessa que a cachaça de qualidade enfrenta a competitividade do produto clandestino e o preconceito do público consumidor que prefere a vodka e o uísque.
Além do mercado interno que absorve a maior parte da produção, uma das saídas é a conquista do comércio exterior. E isso a cachaça de Abaira já deu o ponta pé inicial com a venda em março do ano passado de um lote de 21 mil garrafas para a Itália. Existe a promessa de mais 80 mil litros para o mesmo país neste ano de 2009 como informou Nelson Luz Pereira, membro da Coopama (Cooperativa dos Produtores Associados de Cana e seus Derivados da Microrregião de Abaira) e chefe do escritório local da EBDA).
Também, compartilhada com o comércio de outros produtos, a cachaça “Serra das Almas”, em Rio de Contas, tem sido vendida para o exterior. No entanto, Paulo Mesquita denuncia que o produto artesanal de qualidade tem sofrido uma competição pesada da Cachaça de Coluna, como da Pitu, da 51 e da Caninha da Roça na Europa.
Acontece que o produto industrial lá fora não atua como cachaça, mas como ingrediente para se fazer a Caipirinha. Mesmo com essa concorrência, “a Serra das Almas já desbancou uma cachaça de Coluna na Suíça” Existem outros mercados promissores como Portugal, Alemanha, Bélgica e Áustria que estão em negociação.
O coordenador regional do Sebrae/Conquista, Cláudio Cardoso disse que o encontro com os produtores e comerciantes na Feira Coopmac-Sebrae demonstra o trabalho que o órgão vem desenvolvendo para melhorar a qualidade do produto. Para ele, foi mais uma oportunidade oferecida aos produtores, visando o incremento dos seus negócios e a expansão do mercado. “A própria participação num evento como esse é um esforço do Sebrae no sentido de dar condições para que o fabricante coloque seu produto no comércio”.
Na Bahia, conforme avaliação feita por Cláudio, a cachaça sempre teve uma produção marginalizada do ponto de vista da legislação e de suas especificações técnicas. Porém, “nos últimos cinco anos houve esse movimento do Sebrae como parceiro, apoiando no preparo das embalagens, no registro e na organização da cadeia, para criar oportunidades de competição com outros mercados”.
Fonte: Blog do Paulo Nunes
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