domingo, 24 de fevereiro de 2013

“Trouxemos todas as expressões do carnaval ancestral de Rio de Contas”, declara a idealizadora do Projeto Mandú



O carnaval de Rio de Contas deste ano ganhou um reforço e tanto. Estamos falando do Projeto Mandú, proposto pela Ong Oásis e Ponto de Cultura Ciranda de Bonecos e aprovado no edital de culturas populares do Fundo de Cultura do Estado da Bahia.

No ano em que o carnaval de Rio de Contas comemorou 100 anos de folia, a equipe do Projeto Mandú buscou revitalizar o evento, fortalecer as ações culturais do município, estimular a diversidade cultural da mais expressiva festa popular da cidade e homenagear o boneco Mandu, um personagem assustador que aparece sempre nos carnavais de rua na Bahia, o qual desfila com os braços abertos e que tem como chapéu uma peneira e como traje um paletó desajeitado.

Durante dois meses, o Projeto Mandú realizou, em parceria com os artistas locais, como Pedro Souza e Humberto Wagner, oficinas de máscaras, bonecos e bonecões, fez cinco pré-carnavais aos domingos, resgatou o Pequi Elétrico e a Lavagem do Coreto e criou um bloco de bonecões, caretas e máscaras com todo material confeccionado nas oficinas.


A idealizadora e coordenadora do Projeto Mandú, a riocontense Ana Rosa Soares, conhecida como Rosa Griô, conversou com a nossa reportagem e contou sobre a experiência e aceitação do projeto no carnaval de Rio de Contas deste ano e a possibilidade de sua aplicação na folia de 2014.



Livramento Diário – O Projeto Mandú, como sabemos, buscou a revitalização do carnaval tradicional de Rio de Contas e o estimulo à diversidade cultural da mais expressiva festa cultural da cidade. Esse objetivo foi alcançado? O que o Projeto Mandú representou para o carnaval de Rio de Contas deste ano?

Ana Rosa Soares (Rosa Griô) – De todos os projetos já coordenados por mim, o Projeto Mandú foi o que teve maior envolvimento da comunidade riocontense. E acredito que sim, plantamos uma sementinha do que pode ser possível realizar no carnaval de Rio de Contas, e que antes de pensar no turista ou no visitante, pensamos na cidade, na identidade cultural, e o propósito foi exatamente esse, contribuir para o fortalecimento da cultura tradicional de Rio de Contas. E não há resgate nesse propósito, porque a cultura ela ainda existe, apesar de ter sido encolhida e desvalorizada nos últimos anos. O que se propôs foi uma reconexão com os valores ancestrais, porque quando adubamos e colocamos água na raiz a cidade inteira cresce com isso.

Acredito que o Projeto Mandú tenha, sim, uma representação para o carnaval de Rio de Contas, pois, ele veio como contraponto ao que existe aí hoje, a falta de diversidade cultural na proposta do carnaval de Rio de Contas, a massificação, a privatização, a falta de qualidade musical das bandas. Acredito que o projeto Mandú que foi realizado por um grupo pequeno de pessoas refletiu os anseios dos riocontenses.

E sempre escutamos o discurso saudoso das pessoas, que não podiam mais se vestir de careta, que os artesãos não tinham apoio para confeccionar suas peças, que não tem mais lavagem do coreto, que havia isso havia aquilo, e que hoje não tem mais. Essa iniciativa nada mais é do que o querer do coletivo, que estava dormente e despertou quando colocamos em prática.

Quando escrevemos o projeto, não sabíamos do centenário do carnaval e ficou interessante que trouxemos todas as expressões do carnaval ancestral de Rio de Contas como o Pequi Elétrico, a Lavagem do Coreto, pré-carnavais com caretas nas ruas, bonecões etc.




LD – Houve alguma dificuldade quanto à concretização do Projeto Mandú? A aceitação do projeto por parte dos foliões foi positiva?

Rosa Griô – Olha, esse projeto foi um mestre para todos nós. O nome Mandu foi colocado em homenagem a um boneco feio, depois descobrimos que o nome era sinônimo de problemas, confusões. Tivemos muitos obstáculos, executamos todo o projeto sem recurso, pois a conta estava bloqueada, tivemos alguns obstáculos, coisas pequenas que conseguimos contornar.

Mas, apesar de toda a dificuldade, o projeto teve uma enorme aceitação por parte dos foliões, não deixamos de cumprir nenhuma meta. Teve alguns atrasos como no do Pequi Elétrico, mas faz parte. E o Mandu brilhou, brilhou nos olhos dos velhos, das crianças, dos jovens, dos turistas, da cidade. A belezura que causou foi impressionante, e é isso o que nos deixa mais satisfeito: propiciar a alegria nas pessoas.

LD – Quais os rumos serão tomados agora pela equipe do Projeto Mandú? Já se tem algo em mente para o carnaval de Rio de Contas de 2014?

Rosa Griô – Ainda não temos nada previsto para o ano de 2014. Queremos muito continuar com a ideia do projeto, vamos correr atrás de patrocínio para podermos executar mais uma vez e fortalecer a ideia do carnaval tradicional de Rio de Contas.

Obs.: A entrevistada pela nossa reportagem, Rosa Griô, é licenciada em História pela UNEB e especializada em Gestão Cultural pela Faculdade Getúlio Vargas. Ela é também Coordenadora Técnica do Ponto de Cultura Ciranda de Bonecos e Membro da Comissão Executiva dos Pontos de Cultura da Bahia.

Mais fotos no Livramento Diário

Com informações do Livramento Diário

Nenhum comentário: