Por Ricardo Stumpf
O modelo de gestão cultural compartilhado entre o público e o privado vem dando certo em vários estados brasileiros, em forma de fundações que, apesar de manterem seu caráter de entidades públicas, voltadas para o interesse coletivo, com relevante papel educativo, tem autonomia administrativa e financeira para buscar recursos próprios, além daqueles alocados pelo poder público.
Um exemplo desse tipo de gestão é a Fundação Clóvis Salgado do governo de Minas Gerais, que gerencia vários equipamentos importantes em Belo Horizonte, aluga seus espaços para shows promovidos por entes privados e exerce suas funções educacionais e de formação de público para diversas formas de arte.
Em Rio de Contas, guardadas as devidas proporções, poderíamos ter uma fundação que gerenciasse o Centro de Cultura, hoje entregue a uma faculdade particular, o Teatro São Carlos, hoje fechado, aguardando por uma reforma do telhado ou até por uma ampliação já definida em projeto aprovado pelo IPHAN, e o Museu Arqueológico da Chapada Diamantina, já criado por lei municipal e aguardando apenas que a prefeitura lhe ceda um espaço para funcionamento, apesar de já ser dono de um acervo importante, resultado das escavações para construção da rodovia Rio de Contas - Jussiape, e da rede de esgotos da cidade, acervo este que se encontra em Salvador, em parte em mãos da Embasa, em parte da UFBA.
Uma Fundação Cultural poderia gerenciar também um novo espaço a ser construído para realização de espetáculos maiores e, se algum prefeito tiver a coragem de desapropriar o antigo Colégio Circea, que se encontra desativado servindo apenas de residência para o padre da cidade, poderia cedê-lo para que alguma instituição de ensino superior traga um campus avançado em alguma área de conhecimento que tenha relação com a cidade, seja a mineralogia, as ciências agrárias, a arquitetura, a música, a história, ou até mesmo a arqueologia, já que a região concentra um acervo importante de pinturas rupestres.
Recentemente visitei o Parque da Serra da Capivara, no Piauí, e fiquei surpreso ao perceber que as pinturas do paredão de Jussiape, por exemplo, são muito mais numerosas e nítidas que as piauienses, faltando apenas um trabalho de pesquisa e divulgação. Além delas pude conhecer algumas em Livramento, em Itaberaba, as de Iraquara e tomei conhecimento de uma pintura representando uma cobra, em Rio de Contas, no distrito do Brumadinho, além das já catalogadas em Caetité. Há notícias de muitas outras.
Sabe-se que um dos maiores problemas das cidades históricas, tombadas, é encontrar uma função urbana que lhe permita crescer sem destruir seu patrimônio. Ouro preto, em Minas Gerais, é um exemplo de solução, que lhe permitiu tornar-se um cidade universitária, trazendo a alegria dos estudantes, com seus festivais de arte e cultura, preservando seus tesouros arquitetônicos e sua cultura popular enquanto gera milhares de empregos para seus cidadãos.
Fazer tudo isso apenas com verbas públicas do minguado orçamento municipal seria muito difícil. O formato de fundação poderia permitir aportes dos governos estadual e federal, além da independência necessária para a busca de parcerias com entes privados, que permitissem manter uma efervescência cultural constante na cidade, alimentando a indústria do turismo.
A construção de um calendário anual de eventos, com festivais de música, gastronomia, cinema, literatura e teatro, garantiria um fluxo constante de visitantes, especialmente em épocas distantes das festas tradicionais. Cursos de formação nessas áreas poderiam atrair também moradores temporários, que trariam renda e gerariam empregos. Além disso seria possível a formação de grupos de arte permanente, como um coral, um grupo de teatroda fundação e até uma orquestra sinfônica, em parceria com a centenária Lira dos Artistas da cidade, além da multiplicação dos pontos de cultura, que seriam apoiados pela própria fundação e o apoio às manifestações culturais tradicionais da cidade, como os reizados, as pastorinhas e as manifestações da cultura negra.
Exemplos como o de Parintins, um remoto município na divisa do Pará com o Amazonas que se tornou destino de turismo internacional à partir de um único evento anual, o seu famoso Festival Folclórico, nos mostram que é possível fazer muito nesta área.
Rio de Contas tem tudo para se tornar um centro cultural importante na região sudoeste da Bahia e estou certo de que se houver protagonismo em políticas públicas, o Governo do Estado terá o maior interesse em se associar a elas, assim como várias empresas locais e nacionais.
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