CARTA ABERTA AO PREFEITO
Rio de Contas, 04 de janeiro de 2011
Carta Aberta ao Prefeito Márcio Farias
Pensei, repensei e resolvi escrever esta carta aberta ao senhor, Márcio, por alguns motivos que exponho abaixo: Acredito que a fofoca surge onde não há clareza, e acredito que precisamos esclarecer alguns fatos, e como não tive oportunidade de ter esta conversa consigo pessoalmente, por não ter sido dada a mim esta chance, preciso realmente expressar o que penso deste último episódio envolvendo a minha saída do cargo que ocupei nos dois anos de sua gestão. Em segundo lugar, por todo trabalho realizado, principalmente durante o ano de 2010 com a comunidade, por ocasião da coordenação geral do Plano Diretor Participativo, acredito que as pessoas com quem eu tive contato merecem alguma explicação, se não de sua parte, pelo menos da minha. Ao final de 2008 fui convidada pelo senhor e pelo vereador Johny (PT) para fazer a gestão ambiental do município, e,apesar de ter compromissos familiares, aceitei por ser um novo governo e que vinha sob o signo da mudança, de um rapaz jovem e aparentemente, com sensibilidade social. Na véspera de tomar, posse outro vereador me abordou e disse que o cargo depois de dois anos seria “dele”. Em momento algum objetei esta situação. E gostaria de frisar esta frase. Aliás, entrei tendo toda a consciência de que era apenas um cargo de confiança, e por isso, temporário. Em 2009, o senhor sabe disso, precisamos estruturar a secretaria, e muitas ações foram realizadas, os relatórios estão disponíveis e já lhe foram encaminhados. Só não o do último semestre, pois fui impedida. Ao final de 2009, aceitei o desafio de ser a coordenadora geral do Plano Diretor Participativo de Rio de Contas. Tinha o compromisso de levar este PDP até o final, para buscar viabilizar o município em outras bases. O objetivo foi alcançado, com grande participação popular, o senhor sabe disso, e a comunidade de Rio de Contas também.
Ao longo deste ano de 2010, muitas vezes foi comentado que o vereador em questão queria o cargo, que segundo ele, pertenceria a ele nos últimos dois anos de sua gestão, e que ele iria entregar ao filho. Muitas pessoas entenderam isto como um nepotismo antiético, mas não me cabe aqui discutir essa situação. Vamos imaginar que o rapaz apenas quer ter a oportunidade de colocar em prática seus conhecimentos administrativos recém-adquiridos com a formatura de sua graduação. O que eu questiono, depois de todos os serviços prestados, é o fato do senhor prefeito não ter me comunicado de minha exoneração, de termos conversado inúmeras vezes sobre o assunto, e de eu pedir uma data para este acontecimento, e sempre foi me dito que não havia nada definido. Conversamos Dr. Márcio, dia 22 de dezembro, na última conferência do PDP, e falei que se realmente fosse sair, não deixaria a secretaria entrar em recesso no final do ano para organizar todos os relatórios necessários à boa gestão do próximo secretário, fazendo a prestação de contas ao senhor, inclusive. E nesta ocasião escutei do senhor (e tenho testemunhas), que teria negociado com o vereador um período de dois meses para a realização desta prestação de contas – e eu ainda disse que não precisaria de tanto tempo assim. Fui convocada ainda a uma reunião no dia 29 de dezembro, com o senhor, o secretariado e vereadores, sobre o futuro de sua gestão, e nada foi me dito sobre a exoneração. Dia 02 de janeiro, tive a notícia, por terceiros, de que talvez, seria exonerada na segunda-feira, dia 03. Decidi então, ir à secretaria para tentar colocar algumas coisas em ordem, inclusive documentos pertinentes ao PDP, ofícios de aviso ao Conselho Municipal de Meio Ambiente, que presido (ia), e às demais comissões que participava; ao INGÁ, cujo projeto está em desenvolvimento e demanda pagamentos, já que o orçamento municipal de 2010 foi fechado dia 15 de dezembro e as pessoas que prestam serviço ou forneceram mercadorias neste projeto ficaram sem receber, mesmo com o dinheiro em conta específica de convênio.
Qual não foi minha surpresa, ao telefonar para a secretaria de meio ambiente, que o novo secretário já havia tomado posse, e se encontrava trabalhando, acessando documentos e pedindo contas aos colaboradores que trabalhavam lá. Só há um pequeno detalhe: O senhor não me avisou, não publicou nada em diário oficial, não me encaminhou nenhum ofício dando ciência do fato. Nem o senhor e nem ninguém da sua equipe, a quem caberia fazer este comunicado. Nem um recado, nem um telefonema, e só acabei tendo ciência desta exoneração às quatorze horas da tarde do dia 03, porque exigi a presença do secretário de administração com esta portaria em mãos, pois, o senhor, advogado que é, deve saber sobre direito administrativo, que só depois disso poderia ter permitido que o substituto à vaga realmente tomasse posse. Dizem que não me encontraram; o que me causa estranheza, já que possuo endereço conhecido pelo senhor e os antigos colegas de equipe.
Pergunto ainda ao senhor: Como é que não deu a oportunidade da atual equipe, que compõe a secretaria de se inteirar dos fatos, antes de acontecerem? Era o mínimo de consideração que estes colaboradores mereciam, pois tenho certeza que o desconforto foi enorme, por serem pegos de surpresa, e isto, pode causar desconfortos que, sinceramente, não desejo ao seu novo gestor ambiental. E acredito que isto não é interessante para ninguém que deseja o bem da comunidade e tem compromisso com o município. Teria sido muito mais tranquilo promover uma transição, a bem da transparência na administração pública, e o rapaz teria melhores condições de desempenhar seu trabalho.
O senhor deve conhecer o meu perfil, e sabe que não me furtaria a passar todo o serviço com exatidão, sem nenhum problema. Preciso dizer mais: Não foi fácil passar esses dois anos na gestão ambiental, por falta de recursos materiais, por falta, muitas vezes, de respaldo de sua própria gestão, sem diárias para viagens a trabalho, que não recebi (e espero receber, e os meus salários também). Mas busquei neste tempo todo realizar o trabalho com dedicação, o senhor sabe disso, espero eu. Ao fim e ao cabo Dr. Márcio, a única coisa, que queria, a única mesmo, era ter tido da parte do senhor o mínimo de respeito e consideração em avisar do que iria ocorrer a mim; aos colegas que trabalharam comigo; à Secretaria de Meio Ambiente, enquanto instituição, e à comunidade riocontense. Tenho acompanhado muitas críticas a respeito de sua gestão e até ao seu perfil pessoal de gestor. Sinceramente, a comunidade de Rio de Contas lhe elegeu com muitas esperanças, cansada de um governo que comandou o município durante 20 anos e que se desgastou inexoravelmente. E esta situação que venho assistindo estes últimos tempos, e o seu desgaste que está acontecendo de forma temerosa e rápida me faz lembrar um pensamento que dedicaram estes dias atrás a outro governante, Barack Obama, que também está em franco declínio de popularidade: “quando um Governo eleito sob o signo da mudança se limita a repetir – mesmo com uma tonalidade mais branda– as mesmas práticas daqueles a que a população rejeitou e quis substituir, o resultado é, mais do que a perda de popularidade, a perda da capacidade de mobilizar a vontade coletiva para um projeto de mudanças que ele próprio, em suas vacilações, foi incapaz de perseguir ao preço do risco. Em uma indagação reduzida: se o líder, ele próprio, entendeu que as mudanças eram impraticáveis, diante das circunstâncias, por que a população deveria achar que tais transformações são viáveis?” (Brizola Neto, 2010)
Bom Dr. Márcio, a única coisa que posso lhe desejar nesta nova etapa é sorte e mais maturidade. Seja mais assertivo, mais positivo, assuma as coisas que quer e o que não quer, encare nos olhos. Atente para essas práticas que vem acontecendo no seu governo. As pessoas não votaram no senhor para ter “mais do mesmo”. Não se perca em sua história, porque isto vai marcar a sua trajetória nesta vida. Sua responsabilidade é grande, pois com este tipo de concepção de gestão, as pessoas vão passar a acreditar que “todo político é igual” e perder as esperanças. Sem mais.
Ana Paula Soares da Silva