Sebastião Nery
Prestes na Bahia
Salvador - Hermes Lima, baiano de Brumado, professor, deputado, ministro do Trabalho e do Exterior, primeiro-ministro, ministro do Supremo, no livro Anísio Teixeira, Estadista da Educação, conta uma conversa com o então intendente (prefeito) de Rio de Contas, Rodolfo Abreu, sobre a passagem da Coluna Prestes pela Bahia.
- "Contou-me Rodolfo Abreu, então prefeito dessa cidade que, ao cair da tarde, a Coluna apontou no alto do Cruzeiro e acampou espalhando-se pelas ruas. O comércio cerrou as portas e a população, que não fugiu, trancou-se em casa. Prestes convocou o prefeito, garantiu a segurança dos moradores e solicitou dez contos até o dia seguinte pela manhã. Rodolfo argumentou que a cidade era pobre, mas faria o possível"
- "Na hora aprazada, o prefeito compareceu ao encontro muito preocupado porque só conseguira cinco contos. Ele ria muito ao relatar-me que Prestes pensou um minuto, aceitou os cinco contos, mas Rodolfo, na afobação do momento, meteu a mão no bolso errado, tirou um pacote de dez contos, à vista do qual Prestes, sisudo mas divertido, lhe disse:
- "Seu Rodolfo, o senhor está com cinco contos no outro bolso. Pode ficar com eles".
A coluna
A Coluna Prestes, contada e recontada, faz parte da História. Há livros hoje clássicos: - A Coluna Prestes, Marchas e Combates, de Lourenço Moreira Lima, testemunha ocular da história, que fez o diário e viveu tudo do primeiro ao ultimo dia. As Noites das Grandes Fogueiras, a História da Coluna Prestes, de Domingos Meirelles. Jagunços e Heróis, de Walfrido Morais. A Coluna Prestes, Revolução no Brasil, de Neill Macaulay. À Guisa de Depoimento, de Juarez Távora. Tantos outros.
Agora, o jornalista e pesquisador baiano, Renato Luis Bandeira, filho e morador da Chapada Diamantina, autor do livro consagrado, Chapada Diamantina, História, Riquezas e Encantos, em 5ª edição, está terminando uma pesquisa de campo de mais de trinta anos sobre A Coluna Prestes na Bahia, ouvindo os ainda vivos ou seus descendentes. É um trabalho novo, autêntico, pulsante, sobre os mais de 4 meses, entre 1925 e 1926, em que a Coluna esteve aqui na Bahia, através da Chapada, seus rios e montanhas.
Coronel Tanajura
- "Em Livramento, na casa do coronel José de Aquino Tanajura Júnior, bem próximo à cidade, os "revoltosos" foram, como sempre faziam onde chegavam, requisitar alimentos e animais. O coronel reagiu, chamando-os de bandidos. Manejando as armas, iam trucidá-lo, quando Prestes, mais humano que Siqueira Campos, compreendendo que uma ação magnânima seria mais eficiente, perdoou-o".
"Mas permitiu que a casa fosse invadida pelos companheiros, que abateram porcos gordos, bois e aves domésticas e, em represália à afronta recebida do coronel, jogaram na chuva todo o arroz armazenado da última colheita, enquanto o dono da casa desaparecia pelos fundos da chácara".
O jagunço
Conta Moreira Lima: - "Em Central, fizeram pouso na praça junto a um olho d'água, cercado de numerosas pedras cobertas de matos, e, quando um tal Zenóbio, "revoltoso" do Destacamento de Djalma Dutra, foi com uma jarra buscar água naquela vertente, levou um balaço de um rapaz morador do lugar, que ali se escondera. O môço saiu em desabalada carreira, sendo perseguido e alcançado, tombando fuzilado como se fora o herói de Central, como seu irmão. Eram o Antonio Mudo e o João Grosso".
"Nesse momento, um jagunço praticou um ato de extraordinária bravura, que nos encheu de assombro e entusiasmo. Arrojou-se sozinho, de machado em punho, sobre a tropa que avançava contra a trincheira, inteiramente exposto, numa atitude de heroica beleza. Os soldados suspenderam o avanço e deram-lhe uma descarga a pouca distância, que não o atingiu. O jagunço virou então o seu terrível machado, com as duas mãos, em torno da cabeça e o arremessou violentamente sobre os nossos, num último gesto de energia. A arma formidável rodopiou no espaço e foi cair a poucos passos da nossa linha, sem a alcançar. Houve uma descarga e o herói abateu-se morto no chão como um gigante fulminado por um raio".
Missa na matriz
"Ituaçu foi surpreendida com a ocupação da cidade à uma hora da madrugada e não houve resistência. Os "revoltosos", assim que chegaram, quebraram logo o telégrafo. Nada mais fizeram de malà cidade, conforme relembra dona Orlandina Rocha, que na ocasião contava 16 anos de idade".
"O alto comando ficou alojado no quartel da polícia, no prédio que hoje abriga a prefeitura. Luís Carlos Prestes soltou os presos da cadeia, rasgou várias intimações policiais e os processos contra os moradores de Ituaçu. Determinou o cerco da Praça da Matriz e seus homens com fuzis e metralhadoras guarneciam os pontos estratégicos da cidade".
"Celebrava-se o Mês de Maria e, em reverência e respeito à Nossa Senhora do Alívio, Prestes e alguns dos seus companheiros assistiram o final da missa. Mais tarde, ele, com uma comitiva, fez pregações dos ideais libertários e afirmava que "viera na intenção de conquistar aliados e não de dar combate armado". E colaborou pessoalmente para as obras da matriz".
"Prestes, na esquina do beco da Paia, sobre uma grande pedra no alto do calçadão (ainda existe a pedra), fez uma saudação de agradecimentos ao povo de Ituaçu para, então, se retirarem em direção à Barra da Estiva".
Fonte: Diário de Pernambuco
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