Por Carlos Lima (*)
Ruas calçadas com pedras largas, sobrados imponentes, casarões na maior parte do meio urbano, assim é a cidade baiana de Rio de Contas, localizada a 738 Km de Salvador e integrante da Região Sudoeste do Estado, mais precisamente na Chapada Diamantina.
O município atualmente com cerca de 13.816 habitantes (Fonte: IBGE, 2009) foi criado por Provisão Real (documento que autorizava a criação de uma vila) em 1745 e foi a primeira cidade planejada do Brasil, onde estão conservados, entre outros, igrejas barrocas, casario em adobe e monumentos públicos e religiosos em pedra.
Os primeiros habitantes da região de Rio de Contas foram escravos alforriados que se instalaram à margem direita do rio que possuiu o mesmo nome da cidade, vindo a chamar-se posteriormente Rio Brumado (Fonte: Wikipedia), uma das belezas naturais da localidade. A história da habitação do município aponta também a existência de alguns povoados isolados, tais como Bananal e Barra, cujos moradores são descendentes de negros escravos, e o de Mato Grosso, formado apenas por brancos de origem portuguesa.
Durante a segunda metade do século XVIII, o local atraiu a atenção de muitos em função da descoberta de ouro de aluvião pelo bandeirante Sebastião Pinheiro da Fonseca Raposo Tavares, fato que trouxe grande prosperidade econômica para aquele povoado. A abundância de ouro era tamanha que nas procissões da festa do Divino Espírito Santo, pó de ouro era lançado nos imperadores e rainhas que participavam daquela celebração.
É também a partir de 1750 que surgem os casarões em estilo colonial, que se destacam por sua originalidade e também por sua forte presença em toda uma imensa extensão do meio urbano, a qual é denominada de Núcleo Histórico. Percebe-se, após um breve passeio por aquele Núcleo, que ao longo do tempo a comunidade manteve intacta grande parte do riquíssimo patrimônio histórico que possui. A presença do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) na cidade também vem colaborando sobremaneira tanto para o respeito ao tombamento daquele patrimônio quanto para a construção de uma consciência coletiva sobre a importância da preservação.
O ouro impulsionou a economia e marcou a história de Rio de Contas no seu passado(até 1800), mas atualmente o município tem sua vocação destinada ao turismo ecológico e cultural. Entre as riquezas naturais estão o rio que passa pela cidade, a Barragem do Rio Brumado (a 2 Km do centro), a Cachoeira do Fraga (a 900 m do centro) e o Pico das Almas (1.958 m de altura). Quanto ao patrimônio histórico, podem-se destacar a Estrada Real (aberta a cerca de 300 anos por escravos, é uma via de ligação ao município vizinho de Livramento), a Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento (1744), o Museu Zofir Brasil, a Igreja de Nossa Senhora de Santana e o Arquivo Público Municipal, este com valioso acervo documental sobre Rio de Contas(cartas de alforria, sentença eclesiástica e certidões de escravos, datados desde 1724).
Além de uma excelente opção para o turismo, conhecer Rio de Contas é o despertar para a necessidade de preservação em outros lugares do Brasil, especialmente aqueles compostos por casarios antigos, ruas calçadas com pedras, acervos ricos em documentos, peças museológicas e monumentos, sem contar na fauna e na flora.
Paracatu é uma cidade que se destaca, entre outros, pela exploração de ouro e outros minérios, o que, aliás, muito contribui para movimentar a economia local. No entanto, a cidade possui uma riqueza que pode permanecer por muito e muito tempo disponível, caso seja valorizada, que é o seu patrimônio histórico, capaz de atrair turistas do Brasil inteiro.
(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia, é Coordenador do Arquivo Público Municipal de Paracatu e esteve em Rio de Contas-BA em fevereiro de 2010.
Fonte: Paracatu Memória