segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Wagner endossa contaminação

Jaques Wagner presidiu ato político de inauguração do sistema de esgoto de Rio de Contas

Sem fazer maiores consideração sobre as polêmicas levantadas em torno da obra, o governador Jaques Wagner, da Bahia, deu por inaugurada, em 22.01.2010, o sistema de esgotamento sanitário da histórica cidade de Rio de Contas, cujos dejetos passaram a ser integralmente lançados nas águas do Rio Brumado, o que, certamente, vai contaminar e degradar um dos mais belos monumentos ecológicos da Chapada Diamantina, a Cachoeira de Livramento de Nossa Senhora.

Perdeu-se grande oportunidade de se recuperar plenamente a pureza natural do rio. Não houve uma só voz em defesa do Rio nem da Cachoeira e, muito menos, da saúde pública de Livramento. Mas o jornalista Raimundo Marinho aproveitou o momento para entregar ao governador um dossiê, contendo “abaixo-assinado” como mais de 2.000 assinaturas e cópias de notícias alertando sobre os riscos evidentes contra o meio ambiente e a saúde da população, publicadas em diversos veículos de informação.

O despejo dos dejetos na via fluvial talvez seja o ato mais nocivo ao meio ambiente e à saúde pública, no governo Wagner, que tinha a opção de dar outro destino aos resíduos, como o lançamento em terra, por exemplo, mas preferiu o mais cômodo e mais fácil, expondo a população de Livramento e Dom Basílio ao risco permanente de contaminação por várias doenças (diarréia, cólera, febre tifóide e paratifóide, hepatite infecciosa, salmonelose, disenteria bacilar, gastroenterite, teníase e parasitoses diversas); além de intoxicação por substâncias químicas descartadas via esgoto por clínicas médicas e dentárias, laboratórios e hospitais, produtos que o sistema não trata.

Governador: sempre foi assediado por populares

Os livramentenses, passivos como sempre, apesar de, em sua maioria, indignados e apreensivos, não compareceram para protestar. Em seu discurso, no ato de inauguração, a deputada Marizete Pereira, por exemplo, esposa do vice-governador Edmundo Pereira, afirmou que a população de Livramento também será beneficiada. Não explicou como, mas se desconfia seja pela honra de receber fezes, urina e outros contaminantes na água que diariamente bebe, prepara alimentos e toma banho. Ela está no vesgo grupo de pessoas que acha que antes era pior, ou seja, o mijo e o cocô eram lançados inteiros no rio e agora são liquidificados.

O ato de inauguração ocorreu na praça do fórum de Rio de Contas e os organizadores do evento evitaram mostrar a obra ao governador, que, assim, ficou impedido de constatar seus inúmeros defeitos, muitos deles aparentes. O maior escândalo da obra, um emissário de 2,5 km, para afastar o perigo da cidade de Rio de Contas e da Cachoeira do Fraga, também não foi mostrado ao governador. Todo em ferro e camuflado de verde, pela Embasa, para atravessar longo trecho de mata ciliar, o duto ficou dez vezes mais longo e mais oneroso do que seria necessário, o que, por óbvio, foi igualmente escondido de Jaques Wagner.

As polêmicas envolvendo a obra incluíram a degradação do patrimônio histórico de Rio de Contas, preservado pelo tombamento, e do meio ambiente. Neste último, se encontra o ecossistema formado pelo Rio Brumado e Cachoeira de Livramento, considerados ícones ecológicos da região, apesar de já vir sendo afetados pelos esgotos, mas em escala menor, pois grande parte dos dejetos era retida por fossas.

Agora, o despejo dos dejetos, apenas filtrados, está sendo feito integralmente no rio, a poucos metros da Cachoeira. O tratamento aeróbico garantido pela Embasa não devolve a plena potabilidade e balneabilidade da água. Além de remanescer um índice indefinido de contaminação, há o notório descaso da empresa e das prefeituras na manutenção e monitoramente desses sistemas. Um exemplo é do chamado “pinicão” de Livramento, totalmente abandonado e que já matou o Rio Taquari, afluente do Rio Brumado.

A inauguração, que deveria ser um ato administrativo, na verdade, foi um palanque político-eleitoral, como reconheceu o deputado estadual Valdenor Pereira, ao proclamar sua “alegria de estar presente neste ato político”. Quase nada se falou da obra, parecendo que os discursos foram combinados para apenas enaltecer o presidente Luiz Inácio da Silva e destacar ações e obras populares de forte apelo eleitoreiro, como os programas “Bolsa Família”, “Luz para Todos”, “Água para Todos” e muitos ouros.

Um dos oradores que fez ligeira referência à obra, mais por dever de ofício, foi o secretário do Desenvolvimento Urbano, Afonso Lourenço, que atribuiu o descrédito no tratamento garantido pelo Embasa, vinculada à sua pasta, aos que não conhecem o sistema implantado em Rio de Contas. Todavia, ao descrevê-lo, deu uma pista de que também não o conhece, embora devesse mais que todo mundo. Descreveu a parte final da estação de tratamento, como “emissário em PVC”, que aduz os dejetos até o rio. Não é de PVC, é de ferro. Não deve ter inspecionado a obra.

O prefeito de Rio de Contas, Márcio Farias, confessou publicamente sua traição ao líder Geddel Vieira Lima, do seu partido, o PMDB, encerrando sua declaração de amor ao governador Jaques Wagner com a frase: “meu coração é vermelho e estou com o senhor”. Referia-se às cores do PT, partido do governador.

Aonde Wagner vai, Carlão vai atrás para abraçar

A mesma desenvoltura não teve seu colega de legenda Carlos Roberto Souto Batista, de Livramento, que não discursou e zanzou como um estranho no ninho, uma vez que é fiel escudeiro (ou será que não mais?) do ministro da Integração Nacional. Mesmo assim, disputou com os populares uma foto ao lado do governador e, ao final, foi recompensado também com um rápido e discreto agradecimento de Wagner “pela compreensão de defender o projeto”.

Enquanto Márcio Farias traia publicamente Geddel, Carlos Batista parecia trastejar encima do muro e feliz ante o agradecimento do governador pela sua traição à população de Livramento. Nem se deu conta de que a gratidão de Jaques Wagner, na verdade, representa sua inscrição definitiva, de modo sarcástico e cruel, em uma página lodosa da história de Livramento. E assim irá para o esquecimento de nossa gente, a qual não soube honrar, nem como médico e muito menos como prefeito.

Fonte: Mandacaru da Serra

Um comentário:

Anônimo disse...

Protesto

Estive em Rio de Contas nestes dias e adorei a cidade. É muito linda .
Entretanto, quando fui visitar o hotel San felipo, tomei um susto com as condições das estradas e da favela que os governos municipais deixaram se instalar em dota a rua de acesso. Poucos lugares tem um hotel como este e é uma vergonha deixar as estradas nas condições em que vi.

Acordem governantes para a situação.