Pelo que reafirmou, através de seus representantes, na “reunião comunitária” que realizou, dia 22 de junho, em Livramento de Nossa Senhora, Bahia, “com o objetivo de esclarecer a população”, a Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento) vai mesmo despejar no Rio Brumado, afetando uma das mais belas cachoeiras do Brasil, os dejetos a serem coletados pelo sistema de esgotamento sanitário da vizinha cidade de Rio de Contas.
Durante o encontro, solicitado e conduzido pelo prefeito de Livramento, Carlos Roberto Souto Batista, os representantes da Embasa Virgílio Bandeira Chagas Neto e Júlio César Rocha Mota fizeram um minucioso relato dos processos de tratamento de água e do esgoto gerado pelos aglomerados urbanos, demonstrando os riscos, principalmente para a saúde humana, resultantes da falta de tratamento e mostraram as tecnologias hoje disponíveis para solução do problema.
De forma bastante didática, esforçaram-se para deixar claro que os meios atualmente aplicados no referido tratamento eliminam qualquer risco para a saúde da população e as lavouras, desde que haja o monitoramento adequado. Em conclusão, garantiram que será dessa forma que acontecerá com relação ao sistema de Rio de Contas, em implantação, que em nada prejudicará, segundo acrescentaram, as populações a vazante.
CONTRA POLUIÇÃO DO RIO
No tempo para perguntas, várias pessoas se manifestaram, entre elas, alguns vereadores de Livramento, que foram unânimes em condenar a poluição do Rio Brumado e da Cachoeira de Livramento, mas também aceitaram os esclarecimentos da Embasa. Os principais questionamentos e preocupações, entretanto, partiram de pessoas do auditório, que ficou lotado, em sua maioria de servidores municipais.
Houve forte manifestação de inconformismo contra o lançamento dos dejetos da cidade Rio de Contas no Rio Brumado, mesmo com a garantia, dada pelos representantes da Embasa, de que serão tratados antes. Principalmente entre os jovens, a preocupação maior, além dos riscos para a saúde da população e contaminação das lavouras, foi em relação à possibilidade, no futuro, de morte do rio e da cachoeira de Livramento.
Uma senhora polarizou a platéia ao alertar, com veemência, na sua visão leiga, para os graves riscos representados pelo que chamou “porcarias” que virão de Rio de Contas e indagou do diretor da Embasa se não haveria outro lugar para despejá-las, que não fosse o Rio Brumado, ao que ele respondeu que “só no céu”.
Os representantes da Embasa foram categóricos em dizer que os dejetos serão lançados no Rio Brumado somente depois de passar por moderno processo de tratamento. Negaram qualquer risco para a saúde da população que vive rio abaixo, bem como a possibilidade de contaminação das lavouras e que, para tanto, o sistema será devidamente monitorado.
SE POR ACASO, NÃO DER CERTO?
Engenheiro Eduardo Araújo: "Só no Céu"
Para reforçar a afirmação, o diretor da empresa, Eduardo Araújo, chegou a afirmar que se o sistema anunciado não der certo, será implantado equipamento auxiliar de desinfecção. Ante ponderação do jornalista Raimundo Marinho, de que o “se não der certo” poderia induzir falta de confiabilidade, ele reagiu exasperado, dizendo que isso era uma maledicência do jornalista, alertando a platéia para que, se isso fosse colocado no “seu blog” (do jornalista), seria mentira. Ou seja, era para colocar que ele não disse o que disse.
Aliás, o Sr. Eduardo Araújo, que se declarou casado com uma livramentense (prima da primeira dama do município de Livramento, D. Suzete Spínola), pareceu mais preocupado em desqualificar as denúncias da mídia contra a poluição do Rio Brumado, especialmente as feitas pelo jornalista Raimundo Marinho, dizendo que eram mentiras. Aparentemente nervoso e irado, por várias vezes, ameaçou abandonar a reunião.
Disse que não estava ali para ouvir as queixas, na forma como eram colocadas. Invocando sua condição de marido de uma livramentense, falou repetidamente do apreço que tinha pelo lugar e do seu empenho no projeto, o que fez um jovem da platéia indagar se ele desejaria um “Prêmio Nobel” por isso. Até quem acompanhou a reunião pelo rádio (Porta FM) percebeu e se surpreendeu com o comportamento professoral, imperial e arrogante do engenheiro da Embasa.
O professor José Maria de Jesus, diretor do Colégio Estadual Edivaldo Machado Boaventura, de Livramento, e um grupo de jovens liderados pelo jornalista Mauri Castro e o estudante Flamarion Barbosa, tentaram apresentar fotos mostrando aspectos da poluição do Rio Brumado e da situação do esgotamento sanitário, mas foram impedidos. O prefeito Carlos Batista deu a permissão, segundo ele, democraticamente, mas para depois da reunião, que durou mais de três horas e o salão já estava vazio.
PREFEITO GARANTE MONITORAR
Ao encerrar o encontro, o prefeito Carlos Batista reafirmou seu apoio, “como médico e como gestor”, como declarou, à iniciativa da Embasa. Também manifestou protesto e desagrado contra a atuação do jornalista Raimundo Marinho, a quem se referiu apenas como “esse cidadão”, dizendo que ele “só erra contra nossa administração”. O prefeito não gostou de o jornalista ter publicado que ele, ao apoiar a decisão da Embasa, ficou contra Livramento.
Carlos Batista foi enfático ao declarar que “eu vou monitorar esse projeto”, e que “vocês podem me cobrar, que eu vou monitorar esse tratamento (da água e esgoto). Defendo aqui, em Salvador, seja onde for, eu defendo minha posição”. Incisivo, chegou a se emocionar, lembrando que mora em Livramento há 30 anos e que “nesses 30 anos nunca vi monitoramento”, referindo-se à água e aos esgotos.
De conclusivo mesmo, em relação à acalorada “reunião comunitária”, ficou, de um lado, a convicção dos manifestantes da platéia de que o melhor é não despejar no Rio Brumado, mesmo tratadas, as “porcarias” (como denominou a dona de casa indignada) da cidade de Rio de Contas.
E, de outro, a indiferença da Embasa, confirmando que vai mesmo fazer o lançamentos dos resíduos em nosso santuário ecológico. Cartazes dispostos no local e alguns pronunciamentos apontaram que a decisão da Embasa está na contramão da preocupação global diante da poluição ambiental. E dos próprios projetos oficiais, na Bahia, destinado à descontaminação e recuperação de correntes fluviais.
O QUE FICOU SEM RESPOSTA
Os técnicos da Embasa deixaram sem resposta ou, se responderam, não convenceram, o seguinte:
1. Se o tratamento dos dejetos (“porcarias”) é realmente confiável, por que o despejo foi afastado das proximidades da cidade de Rio de Contas e da Cachoeira do Fraga?
2. Por que insistir em lançar justamente no rio, se há a opção terrestre (já que no céu não é possível, como pensou o diretor Eduardo Araújo), inclusive em lagoas para reaproveitamento por Rio de Contas, na irrigação, por exemplo?
3. Porque não foram disponibilizados aos participantes da reunião cópias de documentos autorizadores do despejo, pelos órgãos ambientais, e do relatório referente ao estudo de impacto ambiental, a partir do ponto de lançamento dos resíduos?
4. Solução para as cerca de 40 comunidades rurais e do entorno da cidade de Livramento, que consomem água bruta e muitas vezes não têm recursos para adquirir água engarrafada ou equipamentos de filtragem.
5. Solução para o “pinicão” de Livramento, cuja descarga, sem qualquer monitoramento, muito contribuiu para a morte do Rio Taquari, afluente do Rio Brumado.
6. Solução para o contingenciamento do abastecimento de água de Livramento, que já se encontra no limite e sem qualquer projeto de ampliação?
7. Solução para, quando o Dr. Carlos Batista não for mais prefeito e o Sr. Eduardo Araújo não for mais diretor da Embasa, a população continuar a ter a garantia de monitoramento do sistema e a estação de tratamento de esgotos em implantação em Rio de Contas não se transformar em mais um inócuo infecto “pinicão”.
DEPOIMENTO DE JOSÉ MARIA
Jornalista Raimundo Marinho e todos que sempre acessam este site, ontem (22/06/2009) presenciei cenas não muito comum em reuniões que tenho freqüentado. Engenheiros e técnicos da Embasa mostraram o que será feito em Rio de Contas para resolver o problema dos esgotos nas ruas. E o que ficou claro foi o objetivo principal, que é melhorar a aparência e o cheiro da cidade para receber turistas.
O que ficou subentendido, também, é que parece que vai ser muito benéfico para a comunidade de Livramento, porque segundo os técnicos, a partir da inauguração da estação de tratamento, o esgoto sem tratamento e com a parte solida não vai desaguar mais no rio, mas somente a parte líquida. Temos uma experiência com o rio taquari. O que deságüe no rio é somente a parte líquida. O chorume que sai do cano é podre e mal cheiroso e até hoje não melhorou, só vem piorando e o que fazer???
Pelo que eu vi e ouvi a maioria dos livramentenses que ali estavam estão muito satisfeitos com o trabalho que está sendo feito em Rio de Contas, porque vamos receber em nossa cachoeira apenas 1000 coliformes fecais por 100 ml de água. Desse modo, a presença de coliformes fecais, que são mais facilmente detectáveis em exames de rotina de laboratório do que as formas parasitárias, indica que a água não deve ser utilizada, porque há um risco aumentado de contaminação.
Interessante, observei que, durante o evento, se distribuiu água mineral das fontes de Dias d’Avila, uma das mais conhecidas águas distribuídas na Bahia. Ninguém trouxe uma jarra de água tratada, filtrada distribuída pela Embasa em Livramento. Por que se deu isso??? Livramento atualmente é uma das cidades onde há uma enorme venda de garrafões de água mineral.
Se a água é tratada e boa, porque se dá isso??? Será que a água é boa somente pra quem não pode comprar água mineral??? Ou os de baixa renda gostariam também de tomar água mineral se tivessem condições de comprá-la??? Eis a questão!!! (Professor José Maria de Jesus).
Fonte: O Mandacaru