Raimundo Marinho
Em matéria publicada no Diário Oficial do Estado (06.05.2009), a Embasa (Empresa Baiana de Água e Saneamento) confirmou que vai mesmo despejar no Rio Brumado os dejetos sanitários da cidade de Rio de Contas, Bahia, onde está sendo implantado novo sistema de tratamento de esgotos. É de reconhecimento geral que essa atitude, por tudo irresponsável, porá em grave risco a saúde das populações à vazante do rio, em especial as dos municípios vizinhos de Livramento de Nossa Senhora e Dom Basílio.
O mais estarrecedor, no entanto, é que, em uma tardia audiência pública sobre o assunto, promovida por aquela empresa, dia 07.05.2009, em Livramento, o “prefeito dos livramentenses”, o médico Carlos Roberto Souto Batista, em segundo mandato, apoiou a medida, dizendo que não vê mal algum para o município, sob o argumento, no mínimo tosco, de que os dejetos são lançados hoje in natura e passarão a ser tratados.
É o mesmo que dizer que fezes liquidificadas, centrifugadas e coadas tornam-se aptas para o consumo humano. Isso porque a estação de tratamento em construção em Rio de Contas, embora em padrões técnicos modernos e até agora aceitos como satisfatórios, não purifica os dejetos sob o ponto de vista bacteriano. E qualquer estudante de medicina mediano sabe que subsistirá sempre, nesse caso, o potencial contaminador.
O sistema apenas retém os resíduos sólidos, através de processo de decantação e filtro arenoso e de pedras, sem qualquer substância química capaz de eliminar organismos vivos, como as bactérias comumente presentes em dejetos sanitários. Entre elas, as causadoras de variados tipos de doenças: verminoses, tuberculose, salmonelose, leptospirose, cólera, hepatite, infecção intestinal, H. Pilori, febre tifóide e tantas outras.
Diante disso, é altamente perigoso lançar tais dejetos, mesmo considerados tratados, em rios ou no alto-mar, como estupidamente se costuma fazer, na pior das agressões ao meio ambiente, pois coloca em risco o mais importante dos seus componentes, que são as pessoas.
Não se sustentam os argumentos segundo os quais os esgotos são lançados atualmente no Rio Brumado sem qualquer tratamento e passarão a ser tratados, sem perigo para a população, e que a distância e a queda d’água representada pela cachoeira purificariam a água. É pura mentira ou não passam de mitos, usados de má-fé ou de forma ingênua pelos que apóia a decisão da Embasa.
A cidade de Rio de Contas possui atualmente, ainda que precário, um sistema de fossas, que está sendo substituído. Então, não é todo o seu esgoto que é atirado no Rio, atualmente. Com o novo sistema, sim, todos os dejetos passarão a ser lançados nas águas do Brumado, aumentando consideravelmente a carga de contaminação. Quanto à distância e à queda d’água, não são suficientes para eliminar as impurezas. A distância mínima tida como necessária é de 25 quilômetros, enquanto que o ponto previsto para o despejo fica a poucos metros da Cachoeira de Livramento.
O risco de contaminação é tão evidente que, por pressão da comunidade de Rio de Contas, a Embasa admitiu, na audiência pública, que foi obrigada a construir uma adutora, de 2.500 metros (dois quilômetros e meio), onerando o custo da obra, para lançar os dejetos o mais longe possível daquela cidade e da cachoeira do Fraga, conhecido balneário ecológico da região.
Um representante da Embasa na reunião informou que os dejetos serão lançados no rio com 1.000 coliformes fecais por 100 ml de água, ou seja, a cada copo de água de 300 ml que bebermos, estaremos ingerindo 3.000 coliformes fecais, de pura contaminação biológica. No tocante à paisagem ambiental, o mínimo que vai acontecer é o tingimento de preto do nosso “véu de noiva”, a Cachoeira de Livramento.
Quem desejar ter uma idéia mais clara e realista do aqui dito, visite o chamado “pinicão” de Livramento, que também já foi objeto de denúncia neste site. Repare bem nas lagoas e no ponto em que os dejetos escorrem para o Rio Taquari. E o que está sendo feito em Rio de Contas é nada mais nada menos que um novo “pinicão”.
Temos tudo para ficarmos temerosos, uma vez que, além da reconhecida insuficiência dos serviços da Embasa e do Estado em geral, eles não são confiáveis, os esgotos lançados tanto no Rio Brumado quanto no Rio Taquari são ameaças eternas para a população, que tende a se agravar com o crescimento das cidades.
A educação pública do Estado é uma lástima, assim como as suas casas de saúde; as estradas vivem permanentemente esburacadas, o atendimento ao cidadão é humilhante. Como acreditar na afirmação da Embasa de que os esgotos da longínqua cidade de Rio de Conas “serão tratados”? Não somos tão ingênuos nem bestas assim, não é? Então é melhor despejar os esgotos longe de nossas fontes de água.
Bem! Diante do exposto e, principalmente, considerando a traição de quem esperávamos ser um aliado forte, o “prefeito dos livramentenses” e médico Carlos Batista, que, registre-se, ficou isolado na audiência pública (pelos menos três vereadores da sua bancada e altos funcionários da Prefeitura ficaram contra a Embasa), só nos resta um de dois caminhos, aliás três: tentar reverter a situação pela via judicial; beber a água contaminada; ou nos mudarmos todos para a bela cidade de Rio de Contas!
Fonte: Mandacaru da Serra
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