* Por Antônio Novais Torres
Irmãos de D. Esther: Antônio, Basílio, Cantídio, Dulce, Esther (a própria), Floripes, Guiomar, Hermano, Israel, Julieta, Kilda, Laudelina, Mário, Nair e Osmar.
Esther Trindade Serra foi uma mulher dinâmica, independente, versátil e destemida. Morou em Abaíra, no povoado de Jequi município de Iramaia, onde exerceu as funções de parteira e Oficial de Cartório. Em Brumado exerceu diversas atividades: pintora, escritora, poeta, política, conselheira, exímia oradora e parteira – o que mais gostava de fazer.
Amava a terra natal, nunca deixou de participar e de comandar os festejos do Santíssimo Sacramento, o maior acontecimento católico realizado em Rio de Contas e lutava pela preservação da beleza natural e das tradições do povo rio-contense. A cidade precisava conviver com o novo do progresso e preservar o antigo, um patrimônio histórico nacional. Lutava para essa finalidade.
Casou-se em 1935 com Pedro Esmeraldo Serra na Igreja Matriz de Macaúbas. Comemorou bodas de ouro em 1985 na Igreja Matriz de Brumado e o casal teve os seguintes filhos: Celeste, Célia, Olympio, Ordep, Bárbara, Ana Elvira, todos profissionalmente realizados e distinguidos pela competência e sapiência: Pedagogo, Antropólogo, Médico, Escritor, Poeta que herdaram a veia da inteligência da mãe, uma autodidata de inteligência refinada pela leitura.
Em Brumado foi secretária do Ginásio General Nelson de Melo, bibliotecária na Biblioteca Municipal Jarbas Passarinho, Vereadora, vice-presidente da Câmara, presidente da Casa, líder do Governo, oradora e elogiada por correligionários e adversários, pois no seu entendimento a amizade estava acima das divergências políticas e para todos tinha um tratamento igualitário.
Merece relatar outros feitos de D. Esther: Dedicou o poema Nossa Senhora dos Verdes ao brumadense Antonio Rizério Leite e compôs a letra do Hino do Hino do Município de Rio de Contas com melodia do maestro Esaú Pinto. Compôs o hino a São Sebastião padroeiro de Brumado, em 1959, apresentou o primeiro presépio vivo em frente da Igreja Matriz, com encenação teatral na Missa do Galo – O nascimento de Jesus.
Em sua homenagem a Câmara Municipal deu o nome de um logradouro público no bairro Jardim Brasil de “Rua Vereadora Esther Trindade Serra”. Os Vereadores Geraldo Leite Azevedo e Manoel de Souza Lima, pelo Projeto de Resolução n. 02/90 de 11 de maio de 1990, indicaram à Câmara de Vereadores de Brumado que nomeassem a sala da sessão Câmara o nome de auditório: Esther Trindade Serra.
Na qualidade de representante do povo fez várias indicações de interesse público e comunitários que foram acatadas, produzindo benefícios e homenagens, portanto uma vida pública repleta de realizações.
Declarações de Clara de Andrade Alvim: “Os poemas de Esther Trindade Serra, que formam o Guia Lírico, recriam, sobretudo, o encantamento da vida da cidade que ela nasceu e passou a mocidade”. “Através de sua fala, de seus atos, de sua pintura e de sua poesia, D. Esther é, pois, um exemplo para a população local e para os que vêm de fora, conhecer a cidade”.
Declarações de Robson Emmanuel Trindade Serra (sobrinho): “A pintora Esther Trindade Serra soube captar com tocante sensibilidade as imagens do nosso passado recente. Suas pinturas cheias de cor e alegria nos mostram cidades do interior, as paisagens da Chapada Diamantina e seu povo cheio de religiosidade e a chegada dos Bandeirantes desbravando o sertão em busca das nossas riquezas, os tropeiros, as feirinhas do interior, as festividades, a flora e a fauna com toda sua beleza ingênua”. “Os artistas com suas obras são os responsáveis pela História como um registro humano e que um povo que não tem cultura não tem passado nem futuro”.
Declarações de Ordep Trindade Serra: (filho) “Era uma mulher forte, enérgica, cheia de iniciativa. E de criatividade”. “Tinha muitos amigos e conhecidos. Muitas pessoas a procuravam em busca de ajuda”. “Gente pobre e desamparada, incluindo mendigos e prostitutas”. Pela Fundação Nacional Pró-Memória foi lançado o livro de poemas Guia Lírico de Rio de Contas (publicado postumamente) em 1987. A cientista e pensadora portuguesa Judite Cortesão disse que estava diante do trabalho de uma artista de valor com um estilo marcante, afirma Ordep.
“Um adversário político a procurou e ela fez um belo discurso a fim de propiciar-lhe boa estreia na cena pública. É que para ela, a amizade estava acima das divergências” O texto de Ordep é uma pérola de sentimentos, infelizmente não podemos transcrevê-lo na íntegra, por falta de espaço.
Declarações de Celeste Trindade (filha): No discurso de agradecimento a professora Celeste, na inauguração do CRAS da Baraúna em homenagem à sua mãe, relatou diversos feitos dela com destaque para o que segundo ela nem todos sabem – “é inerente à sua personalidade de mulher cristã, enorme caridade para com os mais pobres, os mais humildes, os desajustados, os oprimidos, os desassistidos, os excluídos”. Fazia partos desde o povoado de Jequi situado no município de Iramaia, nas roças a lombo de burro, aplicava injeções, acudia aos que a procuravam, visitava presos na cadeia, fazia visitas a parturientes prostitutas e cuidava das doenças inerentes à sua profissão sem preconceitos e falso pudor. Mas o que lhe dava maiores alegrias era o partejar.
Professora Celeste finalizou com o semblante carregado de saudades e emoções. Agradeceu pelo gesto de homenagear sua mãe de maneira que mais traduz o que foi a sua vida.
A Neta Rebeca deu o seguinte testemunho por intermédio de Celeste: “A vida de vovó, o seu testemunho diário de fazer o bem sem olhar a quem, foi que me deu forças para enfrentar a vida de deficiente visual causada pela mesma diabetes que a vitimou. Aprendi com ela a não conhecer e não alimentar preconceitos, a ver todas as pessoas como iguais”.
Declarações de Marise Trindade Lima (sobrinha): “Sou mãe de 11 filhos deles 6 partos foram feitos por tia Esther. Ela era uma mulher mandona. No Jequi caçava, montava em animais para fazer partos, contudo tinha medo de trovão, era muito festiva e fazia vatapá no dia do santo. Lembra que seu Pedro trabalhou na empresa Belaniza Pereira e que trabalhou num depósito de chumbo extraído de Macaúbas que era armazenado no galpão, onde hoje funciona a Cesta do Povo, e posteriormente era enviado pelos vagões da Leste Brasileiro até Santo amara da Purificação”.
Declarações de Esterlina Cardoso dos Santos (amiga): “Conheceu D. Ester por intermédio de Antônio Trindade, irmão de D. Esther, advogado provisionado que atuava em várias comarcas da região”. Grávida foi orientada por ele, que procurasse Esther que era parteira consagrada em Brumado. Foi à sua residência e acertou tudo e ela não cobrou nada pelos serviços de parteira. Era uma pessoa que não olhava a quem ajudar, fazia tudo por caridade. A partir de então, tornei-me sua amiga. Aparou Açucena e Simone. Ela não mereceu a morte que teve. A diabetes consumiu o seu corpo. Contou que o marido, alcoólatra, mandava o filho ir à venda comprar bebida e o menino, envergonhado, se esquivava e o pai o surrava e obrigava a fazer os seus mandados. Esther sabedora da situação dirigiu-se ao indivíduo e o reprimiu: “No dia que você mandar o menino comprar bebida eu mando a polícia prender-lhe”. “Aliás, isso eu mesmo faço”. Nunca mais o homem pediu ao filho para comprar cachaça.
O professor Eliane José Soares que hospedou a prima “Celestinha” fez um poema em homenagem à tia Esther por ocasião da Homenagem feita a ela pela acadêmica Célia Telles Dias que a escolheu como patronesse no seu trabalho realizado na Academia de Letras e Artes de Brumado (ALAB). Inspirado nas palavras e no relato de Célia produziu o poema que intitulou “Tia Esther”, abaixo mencionado.
TIA ESTHER
Como é bom ouvir falar/de quem soube amar,/e por amor/ fez partos, pariu, partiu. Mas antes de partir/fez contos/fez contos/e cantou. Cantou Hinos de Louvor. Antes de partir/ viu a vida. Pintou o que viu. E amou tudo,/ tudo que Deus criou: O que pariu/O que não pariu/O que cantou/O que viu/ O que pintou/O que viveu/da vida vivida./Amou a vida, enfim,/assim como Deus criou./E amou também a Deus,/amou com todo fervor;/Por isso que o seu canto/ é canto de louvor,/é canto de gratidão.
O casal Célia/Miguel Lima Dias ciceroneou Celestinha que havia estado aqui 20 anos atrás, mostrou-lhe o progresso da cidade e a cultura aqui desenvolvida, uma recepção que muito agradou a visitante.
Esclareça-se que D. Esther pintou em 1972, um mural que retrata de temas sugestivos sertanejos para ornar o gabinete do então prefeito e foi restaurado em 2003, pelo sobrinho Robson Trindade, também artista, que cultua e venera a tia Esther.
A sua pintura rica em cores versava sobre os temas que mais lhe inspirava: o sertanejo, as igrejas, casarios, santos, flores, animais e o povo humilde. Em seu perfil pugnava em defesa da natureza.
Pelo Decreto n. 4.533 de 15 de maio de 2012, o Prefeito do Município de Brumado decreta: Fi.ca denominado o CRAS – Centro de Referencias de Assistência Social – ESTHER TRINDADE SERRA, localizado na Rua Hortelina Alexandre de Oliveira, 235, Bairro Baraúna, integrado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Cidadania.
Essa homenagem bem define o caráter e as caraterísticas da homenageada pelos seus atos e atitudes. Celeste Trindade representando a família recebeu e agradeceu pela homenagem à sua mãe, que bem o merece.
Na oportunidade o prefeito se explicou dizendo-se incompreendido pelo fato da destruição do mural pintado por D. Esther e que daria a Celeste e, por consequência a família, explicações pessoalmente.
Esther Trindade Serra faleceu em 31 de agosto de 1987, vitimada pela diabetes que a fez refém dessa doença devastadora do organismo. Encontra-se sepultada em Brumado no cemitério Municipal Senhor do Bonfim no jazigo da família.
Tudo acabou/Acabou…/D. Morte que tempo/ perdido o seu/você leva, mas,/cada um/permanece/ redivivo, na/lembrança dos que/vão ficando!/Você devia saber:/A saudade, é muito/semelhante à/ eternidade.
Com informações do Brumado Notícias